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Veja três filmes brasileiros sobre alimentação disponíveis na internet

Veja três filmes brasileiros sobre alimentação disponíveis na internet



Eles trazem abordagens distintas sobre assuntos que fazem parte da mesma roda-viva que vivemos quando o assunto é alimentação.

 Eles trazem abordagens distintas sobre assuntos que fazem parte da mesma roda-viva que vivemos quando o assunto é alimentação. Obesidade infantil, doenças crônicas, lobby de indústrias, aditivos químicos, publicidade, falta de informação, desmatamento, uso abusivo de agrotóxicos, perda de fertilidade do solo, transgênicos…

 
Prepare-se: tem muita coisa por trás de um prato de comida.
 
1. MUITO ALÉM DO PESO
 
O filme esclarece algumas verdades sobre a obesidade infantil que vão além do pacote de biscoito recheado e do refrigerante. Um conjunto complexo de atores da sociedade faz a roda de comida processada+lucro+publicidade+falta de informação+doenças girar e crescer. Entram aqui a indústria, a publicidade, o governo, as escolas, os pais e a mídia.
 
No Brasil, 33% das crianças são obesas ou têm sobrepeso. E não estamos falando apenas de “crianças gordinhas”. É uma geração inteira com menor expectativa de vida, mais doente e mais sedentária, que está acostumada a comer de acordo com um padrão insustentável que muitas vezes começa no colo: 56% dos bebês brasileiros com menos de um ano bebem refrigerante. Coca-cola ao invés de leite materno. Já imaginou?
 
É claro que o papel dos pais é preponderante, mas não pode ser levado em conta de forma isolada. “Você não pode competir com as empresas que têm campanhas multimilionárias e com esta publicidade está na televisão, estão na rua, na internet, está por todos os lados. Se você sai com seu filho pequeno e passa por um lugar de fast-food, a criança não vê um lugar onde comer, ela vê um lugar de brincadeiras”, diz um dos entrevistados do filme.
 
O apelo é ainda mais forte quando a comida está vinculada a brinquedos, ursos de pelúcia e pequenos objetos para colecionar que vêm dentro de lanches, chocolates e outras guloseimas. As crianças com sobrepeso aumentam o consumo de alimentos junk-food em 134% quando expostas a sua publicidade. Isso mesmo: 134%.
 
Além da uma alimentação excessivamente ultraprocessada, as crianças hoje se movimentam pouco ao brincar. “Uma das maiores tragédias de se permitir que publicitários tenham acesso irrestrito às crianças é que a publicidade, na verdade, enfraquece o brincar criativo”, mostra o filme. Dados apresentados revelam que as crianças brasileiras passam em média 3 horas na escola e 5 horas em frente à TV. Correr, brincar na rua e subir em árvore está cada vez mais difícil…
 
Transformar seres humanos na fase mais plena de sua formação emocional e física em público-alvo de agências publicitárias e vislumbrá-los como potenciais consumidores é, na verdade, tirar desses futuros adultos a real possibilidade de escolher, uma vez que boas escolhas são resultado de informação e discernimento que não se pode, obviamente, esperar de uma criança.
 
A obesidade está relacionada com as maiores pandemias modernas, como diabetes, doenças cardiovasculares, depressão, estresse e alguns tipos de câncer. Só de açúcar, o brasileiro consome cerca de 51 kg por ano. São mais de 4kg por pessoa por mês. E essa “doçura” toda é uma das grandes vilãs da saúde. Muito Além do Peso ilustra bem isso quando mostra, lado a lado, embalagens de alimentos processados e embalagens do mesmo tamanho com a quantidade de açúcar presente ali dentro.
 
O filme é dirigido por Estela Renner e pode ser visto em melhor resolução no site oficial. Duração: 1h23.
 
2. O VENENO ESTÁ NA MESA
 
O cineasta Silvio Tendler aprofunda a questão do uso abusivo de agrotóxicos no Brasil, o país que mais se alimenta com veneno no mundo.
 
Entrevistas com agricultores, especialistas em saúde, representantes da Anvisa e ambientalistas mostram a realidade vivida no camp0 – fruto de questões políticas e um lobby poderoso das indústrias. Produtos banidos há anos em diversos países ainda encontram mercado por aqui e os agricultores perdem cada vez mais autonomia para grandes corporações, que controlam as sementes geneticamente modificadas e os agrotóxicos.
 
“Os governos aceitam os agrotóxicos como se fosse uma necessidade inevitável sem perceber que tem aí uma certa traição aos princípios ligados à saúde humana e da natureza”, diz Eduardo Galeano, escritor uruguaio entrevistado no documentário. “Em nome de uma produtividade, em nome de um critério economicista do progresso humano, o que acontece com a terra, o que acontece com a gente? A terra e a gente são muito mais importantes do que os numerinhos da produtividade”.
 
O uso dos agrotóxicos foi fortemente intensificado a partir da década de 60 e historicamente faz parte do desenvolvimento da indústria química e da tecnologia do pós-guerra. A Revolução Verde, termo cunhado para caracterizar as novas práticas agrícolas adotadas nos anos 60 e 70, impôs o monocultivo em áreas extensas e vendeu a ideia do aumento exponencial da produção agrícola como “desenvolvimento” e “futuro”, sem levar em conta as consequências que já sentimos na pele hoje.
 
“O que a Revolução Verde fez foi destruir, apagar, esquecer toda a herança, todo o acúmulo de conhecimento da agricultura tradicional ao longo dos seus 10 mil anos e criou-se um negócio totalmente novo”, diz o agricultor Fernando Ataliba em um dos depoimentos. “Essa novidade, depois de 50 anos existindo, está mostrando que ela não dá certo. O que ela está produzindo? Perda da fertilidade do solo, perda dos mananciais, perda da biodiversidade, contaminação do solo, das águas e das pessoas, contaminação do ar”.
 
É muita coisa para se indignar. A duração do filme é de 52 minutos.
 
3. A ENGRENAGEM
 
O vído de 16 minutos é inspirado na série de filmes da norte-americana Annie Leonard, que começou com “A História das Coisas”.
 
Produzido pelo Instituto Nina Rosa, mostra os processos que estão por trás da indústria de carnes e defende que mudar o padrão alimentar da sociedade está nas mãos dos consumidores.
 
O desmatamento da Amazônia e outros biomas para originar pastos, o consumo de água e grãos usados na produção de carne, o poder da indústria agropecuária e a saúde dos consumidores são alguns dos temas abordados.
 
“É mito dizer que esses animais são criados pra alimentar a população do planeta”, explica o vídeo, já que metade dos grãos e hortaliças que são usados para alimentar os animais seria o suficiente para acabar com a fome no mundo. “Pode parecer uma conta simplista e ingênua, mas ela é real. (…) Na verdade, essa engrenagem não deixa acabar com a fome”.
 
Para não assustar os consumidores, o que acontece dentro de um frigorífico é fechado a sete chaves. “E isso é interessante para a indústria. Quanto menos você percebe, mais você consome (…) A gente está falando de uma linha de produção. Os animais, sozinhos, nunca se reproduziriam nessa escala. Esses modelos foram baseados nos modelos das fábricas e só se tornaram viáveis depois que surgiram as vitaminas, os antibióticos e as vacinas para reduzir as doenças provocadas por essas condições de vida”.
 
Um exemplo citado no filme é a produção de gado leiteiro. “Os bezerros machos de raças leiteiras não têm valor comercial. Então, a maioria é vendida ao salsicheiro ou criado para a produção de vitela. Nessa engrenagem, o lucro está acima de qualquer compaixão. As vacas recebem hormônios de crescimento, hormônios para sincronizar o cio, para produzir muito mais leite do que o normal. Suas tetas ficam enormes e inflamadas. Aí, precisam tomar antibióticos. E todas essas substâncias podem passar para nós, através do leite e seus derivados”.