Estrada construída por escravos vira trilha ecológica e religiosa na Baixada Fluminense
Michel é morador da Penha, na Zona Norte do Rio, e percorre o caminho para rezar
No meio do caminho tinha uma pedra. Uma, não. Várias. Inaugurada em 1723, a Estrada da Serra Velha, que ligava antigamente o Rio a Minas Gerais, passando pela Região Serrana, tem em Magé um trecho que conta boa parte da história do Brasil. Palco para quem gosta de estar em contato com a natureza e de aprender, a trilha que passa pela cidade da Baixada foi toda feita em pedras e demorou cerca de dois anos para ficar pronta. No século 18, a estrada era um dos principais caminhos para levar o ouro produzido aqui para nosso estado vizinho.
Estrada em Magé foi construída no século 18 Foto: Urbano Erbiste / Extra
— Esse caminho do ouro é um patrimônio do Brasil. Tiradentes era um dos responsáveis pela escolta dos metais preciosos e também circulou por ali — conta o historiador Marcus Monteiro, de 54 anos.
Maria José, de 82 anos, vive há mais de 40 anos no trecho em Magé Foto: Urbano Erbiste / Extra
Hoje já não é possível ir do início ao fim da estrada para viajar a Minas Gerais, mas nem por isso o local deixa de ter seu valor. No trecho de Magé, há quem faça trilhas ecológicas e até espirituais. É o caso do gari Michel Silva, de 30 anos, que é evangélico e morador da Penha, na Zona Norte do Rio.
— Às vezes, viramos noites aqui. É um local em que podemos ficar mais perto de Deus, mais isolados, longe do Centro — explica.
Caminho do Ouro Foto: Urbano Erb?te / Agência O Globo
Como a estrada passa por dentro da Mata Atlântica, também é possível se deparar com animais exóticos pelo caminho, como pica-pau e cobras. Quem mora no meio do antigo caminho do ouro diz que não se incomoda com isso. Pelo contrário. O mineiro José Milton, de 71 anos, vive com a irmã, Maria José, de 82, há mais de 40 na Estrada da Serra Velha, na altura de Magé, e se preocupa mesmo é com o aumento do número de visitantes.
— A trilha era mais limpa antigamente, sem dúvida. Aqui também era mais calmo. Temos que preservar essa construção feita com a vida dos escravos. As pessoas têm que tomar cuidado com seu próprio lixo — pede José.
Cachoeiras e quedas d’ água também fazem parte da trilha Foto: Urbano Erbiste / Extra
Como chegar e fazer a trilha
O início da trilha da Serra Velha fica a menos de dez minutos da estação de trem Vila Inhomirim, do ramal Saracuruna. Quem for de ônibus, pode pegar os coletivos que fazem ponto final no bairro Raiz da Serra, como o Raiz da Serra x Caxias, da Trel.
Estação de trem Vila Inhomirim é um dos pontos de referência para se chegar ao local Foto: Urbano Erbiste / Extra
Ainda é possível ir de carro. Para isso, é preciso pegar a rodovia Rio-Magé e seguir pela Estrada Velha da Estrela a partir do bairro de Piabetá. São 16km de reta até chegar ao destino final, o início da trilha.
Caminho foi utilizado para levar metais preciosos das Minas Gerais para o Rio Foto: Urbano Erbiste / Extra
Como na trilha há cachoeiras e outros trechos de queda d’água, é recomendado levar roupas de banho. Leve também lanches, já que não há comércio ao longo do caminho. É importante levar não só protetor solar, mas repelente, por causa dos mosquitos. E, claro, tenha também uma sacola para guardar o lixo.