Diretor português quer retratar a presidente Dilma em filme
“Acredito que existe uma forma muito distinta de exercer o poder entre homens e mulheres. Elas, na maioria dos casos, exercem o poder para lutar em prol do bem comum, de forma desinteressada, mas com grande convicção”, justifica o diretor.
Miguel Gonçalves Mendes caminha apressado pela O2 Filmes, com um iPad nas mãos. Na tela do aparelho, o Facebook supre a falta de um telefone celular. "Quebrou-se há três meses e só volto a comprar outro em Portugal", diz, com forte sotaque.
Mendes dirigiu "José e Pilar", produção selecionada pelo país europeu para concorrer a uma vaga no Oscar.
Desde setembro do ano passado, ele realiza na produtora paulista de cinema um documentário para TV sobre o sistema educacional.
"Ele tem uma sensibilidade rara de pegar o que importa. Parece que abre a cabeça de quem entrevista", diz Fernando Meirelles, que o conheceu enquanto filmava "Ensaio sobre a Cegueira".
"Miguel tem sempre um pensamento meio filosófico, de tentar entender a vida", aponta Meirelles.
E é esse o tema do próximo projeto cinematográfico do português, "O Sentido da Vida", um misto de ficção e documentário.
A narrativa é conduzida por Miguel –alter ego do diretor–, um homem que, diante da iminência da própria morte, abandona-se em uma volta ao mundo.
A viagem é feita por terra e água porque "viajar de avião implica perder as transições, as transformações na paisagem e em nós mesmos", aponta Mendes.
Durante a jornada, ele entra em contato com as faces públicas de seis personalidades da filosofia, da literatura, da música, da política, do cinema e da astronomia, cuja intimidade Mendes pretende retratar.
ISLÂNDIA E DILMA
Mendes atualmente negocia a participação no filme das seis personalidades.
Segundo ele, o filósofo suíço Alain de Botton e o escritor português Valter Hugo Mãe já aceitaram estar na obra.
"Depois de Saramago, [Valter Hugo Mãe] foi, até agora, o único a escrever histórias universais, mas cuja essência é o retrato de uma certa portugalidade", explica.
O filme acompanhará o processo de escrita do próximo livro de Valter, que se desenrola na Islândia, país de onde provém um terceiro personagem da área musical.
Mendes também convidou a presidente Dilma Rousseff para participar do filme.
"Acredito que existe uma forma muito distinta de exercer o poder entre homens e mulheres. Elas, na maioria dos casos, exercem o poder para lutar em prol do bem comum, de forma desinteressada, mas com grande convicção", justifica o diretor.
"Nos dias de hoje, em que em muitos países, especialmente na Europa, assistimos a uma forte regressão dos valores, considero ser importante mostrar ao mundo um retrato intimista de uma mulher como Dilma", defende.
O português admite a complexidade do novo documentário, o primeiro depois do seu retrato da intimidade de Saramago, o qual acaba de lhe render o Prêmio Ancine de Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro.
"É um projeto louco. Mas, para me sentir útil, acho que devo assumir tarefas hercúleas quase impossíveis. Só assim poderei perceber se a minha vida fez sentido", diz.