Dilma faz as contas para o impeachment e buscará reaproximação com Temer
Presidente também abordará diretamente todos os 65 deputados que integram a comissão especial sobre o tema
A presidente Dilma Rousseff iniciou os trabalhos da semana fazendo as contas para barrar o processo de impeachment e disposta a investir em reaproximações com o vice-presidente Michel Temer. O objetivo é tentar "tocar a agenda" independente da situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, apesar de ter tido a posse da Casa Civil suspensa, pode vir para Brasília ainda nesta segunda-feira e começar um trabalho informal de articulação. A avaliação é que Lula pode começar a trabalhar sem ser oficialmente ministro e que o governo não pode parar à espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), já que essa questão "não tem como depender de ações do Planalto".
Segundo interlocutores da presidente, durante a reunião de coordenação desta segunda-feira, além de um diagnóstico do processo de impeachment que está em andamento, a presidente avaliou que é preciso reforçar os laços com o PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, que tem dado sinais de que o desembarque do governo está próximo.
A avaliação de fontes do governo é que, apesar da situação com o partido estar complicada, "ela não é irreversível".
— A presidente deve fazer novamente um apelo aos ministros do PMDB para se reaproximar de Temer — disse um interlocutor.
O vice-presidente está nesta segunda-feira em São Paulo e, segundo sua assessoria, não tem compromissos públicos.
Além da preocupação com o PMDB, Dilma, os ministros e os líderes do governo fizeram uma análise do processo de impeachment que, para governistas, tem sido acelerado de forma proposital pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo fontes que participaram da reunião, apesar do cenário de crise agravado, ainda há consenso no governo de que a oposição não conseguirá os 342 votos para abrir o processo na Câmara.
— Essa margem está flutuando, mas o governo ainda acredita que barra o impeachment nesta primeira fase — disse uma fonte.
A ordem dada aos líderes que trabalham no Congresso é para que eles atuem junto aos parlamentares para tentar barrar as estratégias de Cunha, que consideram "uma tentativa de desviar o foco" das investigações da Lava-Jato.
Temer
Apesar de buscar aproximação com Temer, uma fonte do Planalto disse que há a consciência que Temer e Cunha estão do mesmo lado e com a aproximação com tucanos ensaiam cenários para um futuro governo do peemedebista, em caso de afastamento de Dilma.
Mais cedo, em nota, Temer rechaçou a ideia de discutir "cenários políticos para futuro governo" e afirmou "que não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública. Quando tiver que anunciar algum posicionamento, ele mesmo o fará, sem intermediários", diz a nota, enviada pela assessoria de Temer. A nota não cita o senador tucano José Serra (SP) que, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira, afirmou que Temer deve assumir compromissos com a oposição e com o país caso Dilma Rousseff seja afastada da Presidência.
Comissão de impeachment
Na reunião de coordenação política nesta manhã, a presidente Dilma Rousseff firmou com ministros e líderes de governo o compromisso de conversar diretamente com os 65 deputados que integram a comissão especial de impeachment. Segundo interlocutores do governo, o objetivo é focar nos deputados que ainda se colocam como indecisos quanto ao processo, mas a presidente deve dialogar com todos, independentemente do partido.
Segundo o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), a reunião de coordenação tratou exatamente de como deve ser tocada a comissão especial de impeachment. A ordem é manter marcação cerrada sobre todos os deputados que vão votar a abertura do impeachment antes que o processo chegue ao plenário. Com aproximadamente 15 deputados que se declaram "indecisos", a tarefa dos líderes do governo, assim como da própria presidente, será abordá-los diretamente.
Líderes que participaram da reunião afirmam que a avaliação interna do governo aponta para uma leve vantagem de votos contra o afastamento da presidente, embora levantamentos da oposição demonstrem outro cenário.
— A primeira contabilidade mostra uma margem ainda que não muito grande para o governo, mas nada impede que essa margem possa ser ampliada — afirmou Humberto Costa.
Nos bastidores, o cálculo do governo é de que haveria 33 votos contra o impeachment, já contando com a possível migração de deputados indecisos. Nesta perspectiva, o governo teria exatamente metade dos votos mais um, ou seja, a quantidade mínima necessária para evitar o processo.
Além da abordagem direta a cada deputado, o governo também vai tentar aproveitar ao máximo as reuniões da comissão de impeachment com uma participação ativa e convite a representantes de diferentes setores sociais que possam difundir os argumentos da defesa.
— Vamos fazer um debate político acirrado. Aquela máxima de que governo vota e oposição discute para esse tema ela não vai valer. Vamos fazer uma comissão com um debate de alto nível, vamos trazer juristas, a sociedade, vamos denunciar esse golpe e, ao mesmo tempo, trabalhar com cada deputado para que ele possa votar conosco — disse Costa.