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Conheça histórias do empreendedorismo jovem no Brasil

Conheça histórias do empreendedorismo jovem no Brasil



Conheça as histórias e facetas por trás dessa atividade que tem ganhado espaço na economia brasileira

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE), o termo empreendedorismo se refere à habilidade que um empreendedor tem para solucionar problemas, gerar oportunidades, criar soluções e investir na criação de ideias relevantes para seu público e sociedade. Essa prática ganhou relevância a partir da segunda metade dos anos 2000, relacionada, principalmente, à globalização do mundo dos negócios e ao desenvolvimento de novas tecnologias.

Rachel Dornelas, analista de Educação e Empreendedorismo do SEBRAE Minas, concorda com a definição proposta pela entidade.

Empreender é transformar realidades daquele que empreende e do seu entorno. É identificar o problema e, a partir daí, propor soluções viáveis que poderão ser totalmente novas para aquela situação ou território”.

Rachel Dornelas, Sebrae Minas

Dados sobre empreendedorismo jovem do site Novo Negócio indicam que a prática empreendedora por indivíduos na faixa etária entre 18 e 24 anos, não é tão recente assim. Há registros de pessoas com menos de 30 anos de idade que já empreendiam durante a Revolução Industrial, que foi o período em que o sistema capitalista foi instalado na maioria dos países, surgindo demandas e gerando a necessidade da criação de novos negócios para fazer a economia girar na sociedade.

Segundo o estudo Empreendedorismo Jovem no Brasil, realizado pelo SEBRAE, baseado em dados do IBGE, no segundo trimestre de 2021, aproximadamente 1,9 milhão de brasileiros se declarava jovens empreendedores .

No gráfico, destaca-se uma queda da porcentagem entre os anos de 2016 a 2020, de 7,2% a 5,8%. Porém, no ano seguinte (2021), o movimento de jovens empreendedores volta a crescer, alcançando 6,8%.

Perfil do empreendedorismo jovem brasileiro

Os pequenos negócios possuem diferentes características ao longo do país. Dados retirados do SEBRAE apontam que a região Norte possui uma das maiores proporções dos empreendedores jovens, sendo 40% em Roraima, 84% no Amazonas e no Acre. No Nordeste, com o índice de 37%, o Sergipe é um dos Estados com mais mulheres donas de negócios . Já no Centro-Oeste, o Distrito Federal tem uma das maiores proporções de donos de negócios com ensino superior (30%). A região Sul comporta os empreendedores que estão há mais tempo à frente de um negócio, ao menos dois anos – só no Rio Grande do Sul, são 83%. Na região Sudeste, 40% deles estão nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Rachel Dornelas, acredita que o perfil do empreendedor depende do recorte social. “É uma informação importante entendermos de onde vem esse jovem para entender qual será sua jornada empreendedora, se ele tem uma rede de apoio que o permitirá arriscar mais ou menos, se ele terá investimentos que lhe darão oportunidades de iniciar negócios mais ou menos complexos”.

A analista acrescenta que uma questão que seria comum aos jovens é a vontade de fazer a diferença, de ser protagonista de gerar impacto em sua sociedade e de ter mais coragem ou ousadia, considerando que os jovens começam a empreender antes dos 30 anos e, geralmente, não têm muitas contas para pagar, filhos ou pessoas dependentes.

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Importância Social e Econômica

Impactos e importância do empreendedorismo na economia

Fernando Santos Eduardo, professor de Publicidade e Propaganda e Coordenador do Curso de Tecnólogo em Comércio Exterior do ICEG (Escola de Negócios da PUC Minas) afirma que o empreendedorismo é uma atividade muito importante para o desenvolvimento da  economia do país. “O Brasil é um dos maiores países empreendedores do mundo, talvez estando no ranking dos 5 maiores empreendedores do mundo devido a essa característica de adaptabilidade, de mudança e de todos esses processos de estabilidade econômica ao longo dos anos da economia brasileira, então, o brasileiro acaba tendo essa veia empreendedora”.

O professor ainda destaca que os  brasileiro se sobressaem nessa atividade tendo em vista as  características que são atribuídas a esse povo. “Temos no Brasil uma característica muito interessante que é o empreendedorismo por necessidade, uma vez que o brasileiro se adapta muito bem à novas situações, “se vira” para ter o seu próprio negócio, então a criatividade está aflorada, isso também é uma característica marcante do povo brasileiro comparado com outras culturas pelo mundo”.

Impactos de aspecto social do empreendedorismo jovem

A analista Rachel Dornelas concorda que o empreendedorismo tem um impacto benéfico na economia do país, mas ela também comenta as implicações dessa atividade no âmbito social. “A inserção do jovem no mercado encontra muitas barreiras devido à falta de experiência e, ainda, a baixa escolaridade. Diante disso, o empreendedorismo jovem tem grande impacto na sociedade pois promove a inserção do jovens no mercado de trabalho que, a partir dessa primeira experiência, ganha maturidade para seguir com a carreira empreendedora ou tentar novas possibilidades no mercado de trabalho”.

As diferenças do empreendedorismo entre gerações

Pedro Augusto Assis, doutor em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC Minas) e professor da Escola do SEBRAE-MG, aponta que há uma mudança na forma de empreender em virtude da experiência vivida ao longo do tempo. Segundo ele, o mercado é dinâmico e as mudanças são cada vez mais velozes e que é necessário aprender constantemente para minimizar os riscos. “Os empreendedores nascentes erram muito e aprendem com os próprios erros e com os erros dos outros. Com a maturidade do negócio e do empreendedor, ele passa a ser mais cauteloso, e assertivo com suas tomadas de decisões. Mas nada garante o sucesso para sempre”, alerta

O jovem empreende mais por necessidade ou por oportunidade ?

Jovens entrevistados pela reportagem se dividem entre aqueles que empreendem por necessidade e os que fazem isso por oportunidade. De acordo com Pedro Augusto Assis, a taxa de empreendedorismo por oportunidade está crescendo no país, levando em conta o nível de escolaridade brasileira.

Dornelas, apesar de informar que no Brasil atualmente o empreendedorismo jovem por necessidade é mais praticado em relação ao por oportunidade, levando em conta características que perpassam os nichos do próprio empreendedorismo, concorda com o que foi dito por Pedro Augusto: “No entanto, à medida que a educação empreendedora vem sendo inserida nos currículos escolares e a cultura empreendedora seja disseminada nos territórios, os indivíduos vão identificando oportunidades, buscando solução de problemas e transformando o capital empreendedor da sociedade”.

O uso das mídias sociais

De acordo com pesquisa do Sebrae de 2021, sobre o impacto da Covid-19, 70% dos micro e pequenos negócios já usam mídias sociais, aplicativos ou outros recursos online para potencializar suas vendas. O WhatsApp é a ferramenta mais popular, com 84% de adeptos. Além de trocar mensagens instantâneas com clientes, o empreendedor pode apresentar catálogos de serviços e ofertar links para pagamentos online. Na sequência, Instagram e Facebook aparecem com 51% e 42% de adesão, respectivamente. A criação de um site próprio para e-commerce ainda é pequena, com 23% das empresas investindo nessa tendência.

As redes sociais aceleram os processos de relacionamento com o mercado, ajudando a identificar e selecionar melhor os clientes e públicos. Quem investe em marketing digital, certamente colherá frutos no futuro bem breve” reflete o doutor em Administração Pedro Augusto de Assis

Pedro Augusto de Assis, professor da Escola do SEBRAE

Rachel Dornelas alega que as transformações da sociedade refletem em todas as atividades econômicas, e que assim, o empreendedorismo jovem tende a ser mais frequente, já que os jovens buscam autonomia mais cedo e desenvolvem mais empreendimentos com base digital apesar de ainda e muito em negócios tradicionais principalmente na área de serviços que não requerem uma especialização muito complexa.

Diante dessa premissa, iniciativas como o Desafio Liga Jovem, do Sebrae em parceria com o Instituto Ideias de Futuro, buscam promover a disseminação do conhecimento e confirmam a importância da informação para o desenvolvimento dos jovens. No Desafio, jovens têm a oportunidade de apresentar seus projetos de negócio na maior competição nacional entre jovens empreendedores a partir do uso da tecnologia. O evento conta com oficinas específicas certificadas para ONGs, associações comunitárias e outras organizações. O público alvo são estudantes a partir do 9° ano do Ensino Fundamental até o final do Ensino Médio, entre 13 e 18 anos.

Para mais informações e para participar da próxima edição clique aqui.

Formação empreendedora

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece o ensino empreendedor como essencial na educação básica. Porém, uma pesquisa feita em 2022 pelo SEBRAE e pela Fundação Roberto Marinho, em parceria com professores de todo o Brasil, aponta que 56% dos educadores entrevistados ainda não tentou aplicar essa metodologia em sala de aula. Para 46% deles, a falta de tempo para inclusão deste tema no conteúdo obrigatório é o principal obstáculo e 40% indicam a falta de interdisciplinaridade como uma das barreiras e somente 25% dos professores ouvidos afirmam conhecer muito sobre o tema.

Para Pedro Augusto Assim, o foco dos jovens brasileiros está mais voltado para gerir pequenas empresas com um pequeno volume de investimentos: “A educação empreendedora avançou, mas ainda não é suficiente, para gerar uma cultura empreendedora na classe de jovens brasileiros”, afirma Pedro Augusto Assis.

Atualmente, tendo em vista o crescimento da atividade no mercado, estão sendo criadas diversas faculdades, iniciativas e cursos que estão focando no empreendedorismo abrindo um leque para aqueles que não se encaixam no meio acadêmico. Muitas escolas e cursos focados na capacitação e formação de jovens empreendedores estão se tornando instituições de relevância para essa atividade. Dentre elas, podemos citar:

  • Escola de Negócios do SEBRAE, que deseja mudar o cenário do empreendedorismo brasileiro, oferecendo aulas focados em diversos temas dentro da área de negócios;
  • Escola São Paulo, que foca na economia criativa utilizando de novas metodologias e com cursos que abordam temas importantes e atuais;
  • Descola, uma escola desconstruída que aposta em uma aprendizagem diferente das convencionais, e entre outras.

Recentemente o Brasil tem buscado adotar dentro das suas escolas de negócios, algumas modalidades de transformar esse ensino, num ensino mais voltado para o empreendedorismo, para o desenvolvimento dessas habilidades competentes”.

Fernando Santos Eduardo, professor da PUC Minas

O  empreendedorismo jovem pode ser um dos motivos de uma evasão escolar ?

No gráfico, é possível observar que a taxa de jovens empreendedores que são formados no ensino médio sofreu um aumento de 2016 até 2020 e se estagnou no mesmo valor no ano seguinte. Já em relação aos que não se formaram no segundo grau, a porcentagem entre 2016 e 2019 se encontrava em valores um pouco acima de 50. Porém, no ano de 2020, cai para 49 e, em 2021, continua o mesmo número.

Pedro Augusto Assis aponta que quando um jovem deixa a escola para empreender, o risco de insucesso é alto. “Um dos grandes avanços do empreendedorismo no Brasil está associado com o avanço do nível de escolaridade. Identificar problemas e propor soluções está cada vez mais difícil, em virtude das novas tecnologias. Não é uma mágica, é muito trabalho, estudo, pesquisa e experiência vivida”.

A analista Rachel Dornelas reforça que a saída precoce da escola pode comprometer a sua maturidade como empreendedor e a formação de seu capital intelectual e cultural. “A escola é um espaço em que o jovem aprende muito mais que os conteúdos da grade curricular, ele vai aprender a socializar, a negociar, a ouvir, a se comunicar, a lidar com frustrações, além disso, ele poderá se utilizar dos colegas e professores  para modelar, validar e disseminar seu negócio e, ainda, a fortalecer sua rede de contatos”.

Os desafios de empreender na juventude

Um levantamento feito pela Globo  mostra que 24% dos jovens das classes A, B e C com até 30 anos são empreendedores e 60% querem ter um negócio próprio no futuro. Porém ter o seu próprio empreendimento no país não é tão fácil.

Burocracia, lidar com a inexperiência, calcular os custos da empresa e conseguir o capital para abrir o negócio, competir com grande empresas, obter credibilidade e tornar sua empresa conhecida no mercado, saber lidar com os funcionários, saber planejar e usar a publicidade são alguns dos desafios relatados no artigo do portal da  Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina (Portal FDCL/SC). 

A burocracia e a alta carga tributária são o que mais incomoda os jovens que sentem que não existe políticas públicas o suficiente para que a relação entre governo e esse grupo seja melhorada. A internet, o SEBRAE e consultorias especializadas são citados como fontes de apoio dos novos empreendedores. Além dos desafios citados, existem também os institucionalizados, como por exemplo, a diferença entre gêneros, regiões, etnias, entre outros.

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Jovens Empresários (CONAJE), o Perfil do Jovem Empreendedor Brasileiro, realizado com mais de 5 mil jovens na faixa etária entre 18 e 39 anos, mostra que 65% deles são homens e apenas 35% são mulheres. As mulheres apresentam um número menor pois, começam a empreender mais tarde além de se prepararem mais. Outro dado destacado é o de regionalização, dos participantes da pesquisa  participantes desta pesquisa, 49,5% estão domiciliados na região Sudeste, 21,9% no Sul, 15,6% no Nordeste, 4,3% no Norte e 8,8% no Centro-Oeste, destacando as desigualdades territoriais brasileiras.

O futuro do empreendedorismo jovem

Impactos dessa prática

Mesmo com a pandemia de Covid 19, que poderia ter desmotivado muitas pessoas a abrir seu próprio negócio, o número de jovens empreendedores continuou a crescer. Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2020 aponta que neste ano, mesmo com o lockdown e a pandemia, o número de pessoas de até 30 anos que se tornaram donos dos seus próprios negócios cresceu 15%.

“O empreendedorismo impacta socialmente e economicamente a sociedade, gerando oportunidades de crescimento para todos. Há investimentos por parte do governo e outras entidades que fazem parte do “ecossistema de empreendedorismo e inovação”, o que pode favorecer no longo prazo o desenvolvimento econômico e social” opina Pedro Augusto de Assis.

Como será o futuro do empreendedorismo jovem no Brasil ?

Rachel Dornelas, assim como Pedro Assis, vê um futuro promissor para essa prática no país, inclusive atribuindo a ela o papel de um dos principais fatores para o desenvolvimento e a prosperidade da economia brasileira nos próximos anos. “O empreendedorismo tende a ser uma atividade crescente no Brasil, tanto pela dificuldade de acesso ao mercado de trabalho quanto ao poder influenciador que empreendedores e empreendedoras de sucesso têm sobre as gerações mais novas. Desta forma, o empreendedorismo será uma atividade fundamental para manter a sociedade em um caminho de prosperidade econômica” nos conta a analista do SEBRAE.

Ouça histórias de empreendedorismo jovem no ColabCast

Depois de entender melhor o que é e como funciona o empreendedorismo, que tal conhecer algumas histórias inspiradoras de jovens empreendedores?

Ouça no Spotify ou em seu tocador de podcasts preferido a série Empreendedorismo Jovem, no ColabCast:

Reportagem produzida por Alícia Resende, Amanda Amorim e Hadassa Victória Lacerda, na disciplina Laboratório de Jornalismo Digital, no semestre 2023/1, sob a supervisão da professora Verônica Soares da Costa.