Caso 007: O Maior Acidente da REDUC (1972).
No dia 30 de março de 1972, na Refinaria Duque de Caxias (RJ), ocorreram três explosões em três tanques esferas de gás liquefeito de petróleo (GLP); a primeira e mais forte, por volta das 0h50m; a segunda às 1h30m; e, a terceira, aproximadamente, às 2h30m.
O vazamento de gás começou às 17 horas de quarta-feira (29/03). Às 18 horas a Brigada Contra o Fogo da Petrobrás lutava para evitar a progressão do defeito, resfriando toda a área, porque a temperatura (de 45° a 50° C normalmente) subia a cada instante. Mais de 100 homens banhavam permanentemente as esferas de gás. O trabalho não surtia efeito e o calor continuava aumentando. O gás já ocupava extensa área, inclusive fora dos limites da refinaria. Àquela altura, um fósforo riscado ou até mesmo uma faísca provocaria o incêndio. A temperatura no ponto de vazamento já estava a mil graus. Com as três explosões, o calor ficou insuportável e o colchão de ar transforma-se em chama gigantesca. A grande esfera de aço rompeu-se de tal forma que seus pedaços pareceram rasgados como se fossem papel, embora pesasse dezenas de toneladas.
Os bombeiros, primeiros ao chegarem à Refinaria, estavam sem condições de combater as chamas, pois não puderam chegar perto do local uma vez que estavam ameaçados de serem atingidos pelas explosões. Na terceira explosão, por volta das 2h30m, o pânico foi total: os próprios bombeiros tiveram abandonar o local às pressas pela Rodovia Washington Luís, o mesmo acontecendo com funcionários da refinaria e médicos que tentavam os primeiros socorros aos feridos.
Em relação aos estragos ocasionados pelas explosões na REDUC, foi constatado: as esferas do tanque, onde estava depositado o gás liquefeito, desordenadas, e de algumas delas só resta um pedaço, porque três partes foram arremessadas para diferentes pontos. As tubulações dos armazéns retorcidos; o chão todo esburacado; algumas valetas abertas pelos três chapões que voaram nas explosões; os carros que estavam no estacionamento foram totalmente queimados; dos restaurantes que tinham na refinaria sobraram apenas os escombros; várias árvores estendidas nas estreitas estradas do parque industrial, e algumas instalações do setor de segurança sem energia era o retrato de uma área afetada pelas explosões. Essas explosões foram classificadas posteriormente como BLEVE (leia o quadro abaixo).
BLEVE – Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion
(explosão do vapor de expansão de um líquido sob pressão)
Explosão de um gás na forma liqüefeita pressurizada, por ruptura das paredes do vaso. Geralmente ocorre com gases liqüefeitos de petróleo que são armazenados na forma líquida pressurizada, que sofre o efeito de um incêndio aumentando muito a temperatura e pressão internas e fragilizando as paredes do vaso.
Como o líquido está numa temperatura muito acima de seu ponto de ebulição, há uma vaporização e uma expansão violenta, formando-se uma bola de fogo no caso de inflamáveis.
Efeito BLEVE em uma esfera. |
Explosão tipo BLEVE. Crescent City, Illinois, 1970.
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ATO HERÓICO
O encanador José Augusto V. Valente evitou que o incêndio na REDUC assumisse características de uma catástrofe de proporções imprevisíveis: ele foi visto quando subia na esfera de gás para “abrir” as válvulas de segurança. Com isso impediu que a explosão fosse horizontal. Ele auxiliou o Chefe de Transferência e Estocagem, Gil Chaves de Morais, a fechar várias comportas no momento do incêndio. Um engenheiro da Petrobrás disse que, se dirigida para os lados, a explosão atingiria outras unidades situadas a poucos metros, haveria explosões em série, destruindo casas, campo da refinaria, equipamentos.
O número de vítimas fatais chegou a 42 e número de feridos próximo a 40, todos trabalhadores da área da REDUC (petroleiros e prestadores de serviço).
Uma das manchetes do dia seguinte. |
CAUSAS PROVÁVEIS:
“…sobre a geração com o produto químico: GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) – qualquer produto vai ter uma incidência d’água que vai se acomodar no fundo dos tanques. Abrem-se as válvulas para retirar essa água; quando começa a sair o produto, as válvulas são fechadas. O Gás Liquefeito congela ao vazar. No acidente de 30/03/1972, o operador abriu a válvula de um dos três tanques de Gás Liquefeito e foi lanchar. A Água começou sair; quando acabou a água, o Gás Liquefeito começou a vazar. O operador voltou correndo, porém não conseguiu fechar a válvula, a qual encontrava-se congelada. Passou um carro com o vigilante fumando (fato que não deveria ocorrer dentro da área industrial), ocasionando o incêndio e, posteriormente as três explosões.”
ERRO OPERACIONAL E FALHA DE PROJETO
- O operador drenava o fundo da esfera com mangueira flexível e não estava no local quando acabou a água para fechar a válvula;
- Vazou muito GLP que vaporizou e acabou congelando a válvula que não pode ser fechada;
- Dispositivos de segurança insuficientes e/ou inexistentes;
- A válvula de segurança foi aberta, porém ela é dimensionada para condições normais de operação e não de incêndio, entretanto, foi o suficiente para evitar uma explosão horizontal de proporção catastrófica.
AS MELHORIAS INTRODUZIDAS EM ESFERAS DE GLP PELA PETROBRÁS.
- Refrigeração no topo da esfera com distribuidor tipo chapéu de bruxa e no terço inferior com sistema de chuveiros;
- Duas válvulas de segurança com intertravamento;
- Vapor de “steam-tracing” para descongelamento;
- Injeção de água pelo fundo da esfera;
- Drenagem do fundo com tubulação fixa, com duas válvulas de bloqueio(a prova de fogo) com comando à distância.
Área das esferas da REDUC após o desastre |