Bela, recatada, do lar e livre
Às vezes eu penso em desligar a internet, não usá-la nunca mais.
Às vezes eu penso em desligar a internet, não usá-la nunca mais. Nesses momentos, juro que bate uma saudade da época onde o máximo de comunicação móvel disponível era ter um Motorola-Tijolão e trocar textos via pager (uma maquininha que servia para receber recados – o avô do SMS).
Isso acontece sempre quando eu vejo discussões intermináveis sobre determinados assuntos que naquela época, não renderiam uma notinha sequer em um jornal sério – quando muito, em uma revista do tipo CARAS ouCAPRICHO (e olhe lá).
Mas “evoluímos” na tecnologia e no tempo, e não tem como voltar atrás (para meu azar). Hoje estamos aqui, uma nação inteira debatendo sobre os atributos de mulher “bela, recatada e do lar” da esposa de Michel Temer, a Marcela Temer.
(Suspiro) Vamos lá:
Eu pensava que o feminismo fosse um movimento criado para garantir os direitos e liberdades – inclusive a liberdade de ESCOLHA – das mulheres, em relação à sua vida e ao seu destino – inclusive optar por ser bela, recatada e do lar.
Para início de conversa, muitas pessoas nem sabem o que é o significado da palavra “recatada”: pessoa que tem modéstia, que é prudente ou sensato – reservada, tímida, envergonhada.
Foi a irmã de Marcela que classificou-a com esse adjetivo, por conhecer a personalidade e a forma de ser de Marcela – pois acreditem, amiguinhos e amiguinhas: mulheres tem características individuais diferentes, sabiam?
Como exemplo, Anita é uma mulher sexy, Madonna é uma mulher polêmica, a mulher de Wesley Safadão ama um barraco e Gretchen até hoje não conseguiu ser feliz em um casamento duradouro e estável (se você buscar no Google por Gretchen casamentos a ferramenta de busca vai te mostrar a lista deles).
E todos nós respeitamos essas individualidades, características de personalidade e opções de escolha, não é mesmo? Agora eu pergunto: qual o problema em uma mulher jovem e bonita optar por uma vida caseira e reservada? Estaríamos felizes com ela aparecendo bêbada ou drogada em baladas da high society paulistana? Adoraríamos ver suas fotos pagando pepeka (depilada, por favor!) saindo de um carro, por conta de um microvestido? Ela não tem um personal trainer gostoso e saradão para insinuarmos belos chifres em seu marido de 75 anos? Ahhhh, que decepção, Marcela!
Cansei de ver manifestações do tipo “o corpo é meu e faço o que quiser com ele”, mas parece que isso só vale para a promiscuidade – SE a mulher optar por uma vida monogâmica e caseira, o mundo na terra brasilis desce ladeira abaixo. Isso não pode! Isso vai contra tudo o que lutamos até hoje!
Juro que li o texto original, escrito por uma jornalista (a grande ironia dessa história toda) e confesso que vi bastante sarcasmo ao retratar a vida da moçoila, em parágrafos que pareciam ter saído diretamente da revistaCARAS.
Enquanto vocês ficam dizendo aí que a revista “está tentando impor um padrão de comportamento ideal”, tal qual aquelas pérolas que eram publicadas nos anos 50 e 60, poucos observaram que na verdade a jornalistaDEBOCHOU do way of life de Marcela Temer. Sim amiguinhas, é deboche. Vocês são bem desunidas, hein mulherada?
O deboche começa logo no título da matéria, quando a jornalista ironizou o termo, como vocês podem perceber pelas aspas em torno da palavra, no título.
Deboche apenas porque a moça resolveu se comportar como alguém da realeza britânica, aquelas mulheres classudas que boa parte de vocês admiram: elegância, educação, comportamento. Mas é lá na Inglaterra né? Lá pode, aqui não. Aqui é Brasil, a terra da popinha da bunda aparecendo no shortinho e peitões pulando para fora do decote. O padrão aqui é OUTRO, bugrada!
Eu até entendo o medo que vocês têm de prosperar o comportamento de mulheres do tipo “Amélia”, tão idealizada nos “anos dourados”. Porém, milhões de mulheres no Brasil vivem uma vida doméstica e caseira, em uma situação igual à de Marcela. É claro, comparar sua fama, dinheiro e poder com todas essas mulheres seria de uma covardia imensa – mas acreditem, são os únicos fatores que diferem Marcela de todas elas: cuidar de casa, do marido e dos filhos é o que todas elas fazem – inclusive Marcela.
Aliás, a maioria das igrejas evangélicas no Brasil propagam esse padrão de comportamento feminino há décadas. Não vejo nenhum mimimi em torno disso. Talvez porque, nesse caso a diferença seja porque a Marcela é uma mulher-do-lar de luxo. Sorte da Marcela, não é mesmo?
Imagino que isso – para uma mulher feminista – é realmente algo a se temer (sem trocadilhos).
O certo é que vivemos em uma época onde a mulher possui – sem sombra de dúvidas – um grande leque de opções graças à sua liberdade de escolha. A mídia é claro, vende seu peixe como pode: mulheres artistas, celebridades, funkeiras, acompanhantes de luxo, modelos, políticas: tudo que é exposto pela mídia é um produto para consumo – não apenas pelo universo masculino, como boa parte das feministas pregam – mas pelas próprias mulheres, que imitam cortes de cabelo, vestidos, sapatos, maquiagem, dietas, segredos de beleza, comportamento e o que mais puderem imitar. “Mulher se veste para outra mulher” é o que me dizem sempre. Eu acredito, é da natureza competitiva delas. Faz parte do universo feminino.
E depois, cansei de ver matérias explorando cada qual seu “ideal” feminino de vida: a mulher executiva, a política, a celebridade e todos esses estereótipos de mulher moderna. Algumas compram essa idéia, outras não – consome quem quer. Benesses do livre arbítrio em uma sociedade moderna e democrática.
Só para fechar este artigo, não poderia deixar de dar o exemplo da minha esposa, Ana:
Ana é turismóloga, tem vários cursos na área e também de RH e chegou a ser Secretária de Cultura de Ladário, uma pequena cidade no interior de Mato Grosso do Sul.
Conheci Ana quando ela tinha 27 anos. Com 28 ela decidiu ser mãe e teve nossa filha Isabelle, 9 dias depois de ter feito 30.
Ela optou por ser mãe, em uma vida reservada e caseira – amamentando e cuidando pessoalmente da nossa filha até seus dois anos e meio de vida, quando então decidiu trabalhar novamente.
Nesse período, eu sustentei a casa sozinho e respeitei sua escolha. Foi uma escolha DELA viver uma vida recatada e do lar – afinal de contas, bela ela sempre foi.
Hoje ela alterna sua vida entre afazeres de casa e do trabalho – que para sua sorte, ela faz dentro de casa mesmo – sem o estresse de horários ou do trânsito – e têm sua vida completamente livre, para fazer dela o que bem desejar: mesmo que para isso, ela opte por continuar sendo bela, recatada e do lar.
Afinal de contas, estamos no século XXI, e é a MULHER e tão somente A MULHER, que decide sobre sua vida. Sou seu parceiro, não seu dono. Ana e Marcela não estão fora do rol de mulheres que possuem tais direitos.
Temer é um homem de sorte, por ter encontrado uma mulher que o faça feliz.
Eu também.
FÁBIO MARCHI
Fábio Marchi é designer, fotógrafo, webdeveloper, profissional de marketing e social media, bacharel em Direito, escritor, blogueiro, político e ainda sobra um tempo para ser Diretor de Conteúdo, do Jornal MS Diário.