A dança como instrumento de inclusão social e resgate da autoestima
É no conhecimento das potencialidades de cada corpo e de cada indivíduo que está a grande contribuição da dança para o mundo.
“É no conhecimento das potencialidades de cada corpo e de cada indivíduo que está a grande contribuição da dança para o mundo”. A declaração é de Renata Távora, diretora da Companhia de Dança Sobre Rodas, formada por cadeirantes e andantes, que emociona plateias desde 2002. A Companhia é um projeto que nasceu dentro da Associação Elos da Vida, cuja missão é promover a inclusão de pessoas com deficiência, através da arte e cursos profissionalizantes.
Segundo Renata, o projeto da companhia foi idealizado para associar a fisioterapia com a dança. Nesse trabalho, a diretora percebeu que a maioria das pessoas com deficiência acreditava que não poderia dançar. “A dança tem um papel muito importante no processo de inclusão social. É no conhecimento de nossas ações e emoções que podemos perceber que nos relacionamos com o espaço e com as pessoas a nossa volta, da mesma forma que nossas emoções se relacionam com nosso próprio corpo”, afirma.
A dança quebra barreiras físicas, sociais e de comunicação. Nesse contexto, a proposta de dança inclusiva rebate o preconceito e cede o palco para a superação. São muitas histórias que, a partir da arte, encontraram novas formas de serem contadas. Renata conta que o projeto Companhia de Dança Sobre Rodas começou com 10 participantes e, atualmente, conta com 60 pessoas. “Durante esse período, os bailarinos experimentaram momentos de muita emoção, superaram dificuldades, venceram limites, conquistaram autonomia, ampliaram espaços e reconstruíram as próprias vidas”, afirma a diretora.
Na análise de Renata, a dança influenciou pessoas, modificou conceitos, mudou atitudes, transformou e renovou a vida dos que cruzaram seu caminho. “Segundo Natália Alleonni, ‘tudo o que buscamos dançar é o que de fato vivemos, e tudo que acreditamos na vida, é o que acreditamos na ação física de dançar. A dança passa a ser assim, mais do que uma sucessão de gestos e símbolos, passa a ser de fato uma extensão da alma’", cita Renata.
Autoestima
A bailarina e jornalista Rochana Lyvian, proprietária de uma escola de ballet que leva o seu nome, traçou desde o início a meta de trabalhar a dança com o foco em inclusão social. Morando no bairro Carlito Pamplona, Rochana, aos poucos, foi recebendo alunas em sua casa. A demanda exigiu que ela construísse um pequeno espaço na residência, que recentemente foi ampliado. “Desde o começo, a ideia era fazer um trabalho social, haja vista que muitas crianças não tinham como pagar pelas aulas”, recorda.
A Escola de Ballet Rochana Lyvian começou com seis alunas. Hoje tem 65 crianças e adolescentes. “Cerca de 60 % das crianças pagam a mensalidade de RS 35,00, um valor simbólico, diante da realidade de uma escola particular de balé que custa em média, RS 170,00. 40% não pagam, tendo direito ainda de se apresentarem nos teatros. Os espetáculos são realizados por meio de uma cota, divididos para todos. Muitos figurinos são confeccionados pelos próprios alunos”, afirma a bailarina.
O empenho com as jovens alunas mudou a vida de muitas delas, resgatando, através da dança, uma autoestima ainda desconhecida para a maioria das garotas. Analisando o quadro, a professora foi desenvolvendo técnicas para trabalhar cada criança e adolescente dentro de seu próprio contexto. “Crianças com deficiência, mobilidade reduzida e Síndrome de Down começaram a procurar o espaço. Passei a estudar por mim mesmo a estrutura do corpo humano e trabalhar criteriosamente cada uma, para obter resultados positivos”, conta Rochana.
Com o tempo, lembra a bailarina, o número de alunas foi aumentando. Nesse conjunto, crianças vítimas da violência e até de abandono foram se tornando o foco da escola. “Algumas crianças são maltratadas, onde os pais as abandonam por conta de serem presos. Elas foram se tornando nosso foco. Contudo, é importante dizer que na escola tem crianças também em um bom patamar financeiro e situação familiar estável. Existe uma troca de experiência de vida, onde cada uma aprende com a outra a importância da socialização, da amizade, de ajudar uma a outra, independente da classe social”, analisa a professora.
Para a bailarina, a dança é “um canal maravilhoso para trabalhar o lúdico, de inclusão social. Há várias metodologias de aprendizagem, trabalho em grupo, pessoal. Tudo isso repercute em suas vidas, na postura de cada uma. Além de que, em nosso espaço, cultivamos a importância de cada criança ajudar uma a outra, dos mais antigos dar força aos novatos. Hoje somos uma grande família, sem olhar cor, peso e classe social”, resume Rochana.
Saiba mais
Para participar da Companhia de Dança Sobre Rodas não existe seleção. Renata Távora explica que basta o interesse de participar, de dançar, ou ajudar de qualquer forma. “Buscamos uma dança inclusiva, onde todos tem o direito de dançar!”, afirma.
Na escola de Ballet Rochana Lyvian, as inscrições também estão sempre abertas. “As aulas acontecem com todos juntos. Apenas alguns movimentos passados para alguns são adaptados, tendo em vista que, algumas, por exemplo, não possuem tanto equilíbrio e isso passa a ser trabalhado mais forte”, explica Rochana.
Mais informações
Associação Elos da Vida (Companhia de Dança sobre Rodas)
Endereço: Rua Afonso Celso, 420 – Aldeota
Contato: (85) 3244 3536
Ballet Rochanna Lyvian
Endereço: Frederico de Andrade, 351 – Carlito Pamplona
Contato: (85) 8801-3624