Inventora do papel moeda, China se desfaz do dinheiro físico
Cada dia mais, os chineses conseguem fazer qualquer transação financeira pelo celular – e as notas de papel vão ficando de lado
Por AFP
Pagamentos: nas grandes cidades, o pagamento pelo telefones virou regra (Bryan Thomas/Getty Images)
Uma corrida de táxi, as mensalidades escolares ou um maço de rabanetes. Hoje em dia, os chineses podem pagar quase tudo com o celular. A popularidade é tão grande, que o país inventor do papel-moeda pode ser o primeiro a deixar de usá-lo.
Em um dos mercados ao ar livre de Pequim, Yang Qianqian escaneia com seu smartphone o código de barras que um vendedor lhe mostra da tela de seu próprio celular.
A transação é concluída num piscar de olhos e a jovem estudante de dança segue seu caminho carregada de peras, batatas e uma melancia.
Tenho dinheiro físico, mas não é muito prático pegá-lo quanto estou cheia de bolsas, explicou Yang. O telefone, por outro lado, está sempre à mão dos chineses.
Nas grandes cidades, o pagamento pelo telefones virou regra. Em 2016, o valor de mercadorias compradas neste meio triplicou, alcançando cerca de 5,83 bilhões de dólares, segundo a consultoria iResearch.
Essa expansão ainda foi suavizada graças ao vigor do comércio eletrônico na China, onde os consumidores cada vez mais trocam as tradicionais lojas pelas compras digitais.
É perfeitamente possível que a China se torne, nos próximos dez anos, a primeira ou uma das primeiras sociedades sem dinheiro físico, garante Ben Cavender, diretor da empresa de análise de mercado China Market Research Group.
Segundo ele, o mercado de pagamento digital na China já é 40 ou 50 vezes maior que o dos Estados Unidos.
Rumo ao exterior
O país tem dois gigantes do pagamento via mobile, com milhões de usuários: Alipay, filial da Ant Financial, do grupo de comércio eletrônico Alibaba, e WeChat Pay, filial do serviço de mensagens WeChat, onipresente na China, do grupo Tencent.
O pagamento por telefone se espalhou tanto que alguns restaurantes de Pequim já não aceitam mais notas. Nos táxis, vendedores ambulantes e salões de beleza já é comum ver os funcionários sacarem o código QR – uma evolução do código de barras – que os clientes vão escanear com o celular para pagar.
O dinheiro físico representava 61% do valor dos pagamentos em 2010, mas deve cair à metade, para 30%, em 2020, segundo a aliança Better Than Cash, apoiada pela ONU para ajudar a transição ao pagamento eletrônico, especialmente em países pobres.
Na China, o cartão magnético não teve muito tempo para se consolidar. Seu uso só se generalizou nos anos 2000, o que explica por que os chineses adotaram com tanta aptidão o pagamento por telefone.
Os mais velhos são os mais desconfiados. O cartão é mais prático porque estou envelhecendo e já não enxergo tão bem, explicou uma vendedora ambulante sexagenária que precisa, contudo, aceitar os pagamentos eletrônicos, já que seus clientes quase não têm mais notas e moedas.
Com o sucesso doméstico, Alibaba e Tencent já começam a olhar para fora, sobretudo países que recebem muitos turistas chineses.
A Tencent acaba de se aliar à alemã Wirecard para lançar o WeChat Pay na Europa, onde o Alipay já funciona.
A segurança dos pagamentos via celular, entretanto, é uma preocupação. Já foram registrados casos de substituição dos códigos QR originais por maliciosos, para roubar dados e dinheiro dos usuários.