Para fugir da crise, famílias de venezuelanos vivem em banheiros públicos em Roraima
Ao Norte do estado, cerca de 50 venezuelanos moram juntos em um banheiro público; a PM diz que criminalidade aumentou desde o agravamento da crise na Venezuela.
A fronteira entre Brasil e Venezuela continua sendo destino de imigrantes que tentam fugir da crise no país governado por Nicolás Maduro a qualquer custo. Muitas famílias abandonaram tudo para tentar uma nova vida em Roraima, se sujeitando, inclusive, a viver em banheiros públicos.
O centro comercial da cidade Pacaraima, no extremo Norte de Roraima e na fronteira com a Venezuela, se transformou em um grande abrigo improvisado. Quem não tem para onde ir, acaba se alojando de qualquer jeito no local. Algumas famílias improvisam colchões para dormirem.
Maribel Mendoza mostra os colchões improvisados onde vive com a família e outras 45 pessoas no centro comercial de Pacaraima, ao Norte de Roraima (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Roraima)
É o caso de Maribel Mendoza, de 49 anos, que deixou a Venezuela, onde tinha casa própria para viver no Brasil. Agora, ela divide um banheiro público de Pacaraima com outras 50 pessoas, incluindo a própria filha, o genro, uma prima e a neta de apenas 2 anos.
“Eu tinha uma casa boa em Valencia [município venezuelano na região Central do país], mas faltava dinheiro. É que as coisas estão muito duras por lá”, disse Maribel.
Índios venezuelanos vivem como podem nas ruas de Pacaraima (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Roraima)
O município que costumava ser tranquilo com seus 12 mil habitantes se transformou no lar de pelo menos 240 venezuelanos em busca de melhores condições de vida desde o início do ano. Entre eles estão cerca de 100 índios que cozinham, lavam roupas, pedem esmola e fazem necessidades em locais públicos.
Segundo o Comandante de Policiamento de Pacaraima, major Josué Silva, há mais de seis anos não eram registrados homicídios na cidade de fronteira.
“Depois que aconteceu essa problemática na Venezuela, ocorreram quatro homicídios, arrombamento de lojas e ponto de drogas”.
Imigração venezuelana
Dados do governo de Roraima apontam que cerca de 30 mil venezuelanos vieram para Boa Vista desde 2016. A maioria deles vive de bicos, vendendo objetos e alimentos nos sinais. Alguns abandonaram totalmente a profissão que exerciam na Venezuela e aceitaram outras funções, mesmo que informais.
Muitos deles vivem em um ginásio poliesportivo da capital, onde funciona o Centro de Referência ao Imigrante onde, com a ajuda de uma ONG, recebem tratamento médico, alimentação e auxílio.
O Centro foi criado pelo Gabinete Integrado de Gestão Migratória, que foi desativado em abril. O governo federal se comprometeu a enviar R$ 500 mil para ajudar no atendimento aos imigrantes, mas esse dinheiro ainda não chegou.
Saúde
Em abril, a ONG Human Rights Watch divulgou um relatório que aponta a grande procura de venezuelanos ao sistema de saúde brasileiro. No Hospital Délio de Oliveira Tupinambá, em Pacaraima, a pesquisa destaca que 80% dos pacientes atendidos são venezuelanos.
“Muitos desses casos são de portadores de HIV/AIDS, pneumonia, tuberculose e malária”, informou o documento.
Na capital, o Hospital Geral de Roraima, considerado o maior do estado, 1.815 venezuelanos receberam atendimento em 2016. Um número três vezes maior ao de 2015. Ainda segundo a ONG, 300 pacientes venezuelanos eram atendidos todos os meses.
Alegando crescente quantidade de pacientes venezuelanos, o governo do estado decretou emergência na Saúde em dezembro de 2016.
Tráfico de venezuelanas para exploração sexual
Vulneráveis por causa da crise econômica na Venezuela, muitas mulheres que vieram a Boa Vista são aliciadas por empresários e passaram a se prostituir para ganhar dinheiro. O bairro Caimbé, próximo à Feira do Passarão, na zona Oeste da cidade, foi onde ocorreu o maior número de casos.
Nesta terça-feira (4) a Polícia Federal desencadeou em Roraima a Operação Codinome para combater o trafico de pessoas, exploração sexual, manutenção de casa de prostituição e rufianismo [quando agenciadores tiram proveito da prostituição alheia] em sete cidades do estado.
Pedidos de refúgio
Venezuelanos fazem fila para receber atendimento na sede da PF em Boa Vista (Foto: Emily Costa/ G1 RR/Arquivo)
Os pedidos de refúgio em Boa Vista tiveram um salto de 9 em 2014, para 230 em 2015 e 2.230 no ano seguinte, um aumento de mais de 22.000%. Além disso, segundo a Polícia Federal, mais de 4 mil pedidos estão agendados para 2017, mas o Comitê Nacional de Refugiados do Ministério da Justiça ainda não aprovou nenhum pedido.
Agora, a imigração chegou a Manaus, distante cerca de 500 km de Boa Vista. Na capital do Amazonas, aproximadamente 350 índios venezuelanos já estão morando em frente a Estação Rodoviária há mais de quatro meses.