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Estado dispensou R$ 33 milhões para obras em escolas no Rio

Estado dispensou R$ 33 milhões para obras em escolas no Rio



Um cabo de vassoura atravessado no que um dia foi a tranca do portão do Colégio estadual Bangu é o que garante a segurança dos alunos, mas o buraco na parte de baixo da estrutura de ferro dá passagem livre aos ratos.

Um cabo de vassoura atravessado no que um dia foi a tranca do portão do Colégio estadual Bangu é o que garante a segurança dos alunos, mas o buraco na parte de baixo da estrutura de ferro dá passagem livre aos ratos. E não é o único problema estrutural da unidade, que está ocupada por estudantes desde a última segunda-feira. As paredes de praticamente todas as salas estão descascadas, as janelas, quebradas e parte do reboco do teto cai do segundo andar. Esta é uma das escolas que o estado poderia ter reformado em 2015, mas não o fez, mesmo com dinheiro em caixa. No ano passado, a Empresa de Obras Públicas (Emop) tinha R$ 66.920.142 só para obras em escolas. Mas só gastou R$ 33.576.200,94. Outros R$ 33.343.941,46 voltaram para a Secretaria estadual de Educação (Seeduc), mas, pela lei orçamentária e por conta dos cofres vazios do estado, já não podem ser usados agora.

— A nossa escola tem dois andares com salas de aula e só duas têm ar-condicionado funcionando — conta Jhonata Braga, de 22 anos, que se formou no ensino médio no Bangu, voltou a estudar lá num curso técnico e agora participa da ocupação do colégio em protesto contra, entre outras coisas, as más condições da unidade.

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

O valor investido pelo estado em reformas de escolas no ano passado é quatro vezes menor do que o gasto em 2014 — R$ 136 milhões. A Seeduc diz que a queda é, em parte, reflexo do contingenciamento financeiro do estado. A pasta ainda admite, no entanto, que o estado tinha para investir o dobro do que gastou, mas só usou a metade porque a Emop, responsável por licitar as obras, “não conseguiu licitar e executar as obras previstas”.

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

A Emop alegou que o motivo da devolução dos recursos foi a quantidade de documentos a serem analisados, “devido ao grande número de interessados que compareceram às (licitações do tipo) tomadas de preços — em média, de 18 empresas para cada região do estado”. O órgão ainda afirma que o “mercado restrito” levou às construtoras a procurarem mais as obras do estado.

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

A Emop não recebeu em 2016 o dinheiro dispensado no ano passado. Agora, tem apenas um terço do orçamento de 2015: R$ 22 milhões para obras em escolas. E o repasse só foi feito no último dia 6. Então, ainda não foi gasto nenhum centavo em reforma.

 

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

Reivindicação de alunos

A reforma dos colégios é uma das mais recorrentes reivindicações do movimento estudantil que vem ocupando as escolas da rede desde o dia 21 de março. Até agora, são 71 unidades sob o controle dos estudantes.

Cada grupo de alunos publica sua própria pauta de reivindicações. O EXTRA fez um levantamento com os pedidos das 10 primeiras ocupações e encontrou 56 pedidos diferentes. Entre os pontos em comum, pelo menos seis ocupações reivindicavam reformas e conserto nos aparelhos de ar-condicionado.

Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura
Colégio Estadual Bangu enfrenta problemas de infra estrutura Foto: Rafael Moraes / Extra

A rede estadual ainda precisa lidar com a greve dos professores, que começou no dia 2 de março. A Seeduc já cedeu em alguns pontos reivindicados tanto pelos alunos como pelos docentes. Entre eles, a diminuição do número de Saerjs (Sistema de Avaliação do Estado do Rio de Janeiro) aplicados. Hoje, toda escola faz quatro dessas provas que medem o desempenho das unidades, e agora o número deve cair para duas por ano.

 

Negociação

O estado tenta acabar com a greve dos professores e o movimento de ocupação para retornar às aulas. A secretaria não informa qual o percentual de docentes paralisados. Já o Sindicato do Estado de Profissionais da Educação (Sepe) afirma que a adesão está em 70%.

Um dos pontos negociados é a democratização da escolha dos gestores dos colégios — uma pauta de professores e alunos. A Seeduc trabalha junto à Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em um projeto de lei que permitirá, mediante critérios técnicos de gestão, que pais, alunos e professores escolham o diretor das unidades escolares. A lei tem que ser aprovada na Alerj. Ela deve ser votada na próxima semana.

Em outra frente, a Seeduc decidiu decretar recesso escolar nas unidades ocupadas a partir do dia 2 de maio. Assim, segundo a secretaria, os alunos poderão ter que estudar aos sábados e domingos e nos meses de agosto de 2016 e janeiro de 2017 para completar o calendário escolar. A decisão já foi publicada no Diário Oficial.

Segundo o texto, caberá às unidades escolares a elaboração do calendário escolar substitutivo, com o mínimo de 200 dias de “efetivo trabalho escolar" e também a “carga horária anual prevista para os cursos com oferta regular semestral de 100 dias letivos”. Após a elaboração, o calendário deverá ser submetido e validado pela respectiva Diretoria Regional Pedagógica que orientará e supervisionará o cumprimento do mesmo pela direção da unidade escolar.

A Seeduc também se comprometeu a visitar as escolas ocupadas e a encaminhar uma equipe para as correções que se fizerem necessárias quanto à infraestrutura dos colégios.