Kerry anuncia morte de 600 combatentes do EI
Ataques foram divulgados na véspera das negociações de paz com governo sírio
PARIS — O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, advertiu este domingo o regime sírio e seus aliados contra qualquer violação de seus compromissos no cessar-fogo e na ajuda humanitária na Síria, e anunciou a morte de 600 jihadistas do Estado Islâmico (EI) nas últimas três semanas.
— Todas as partes devem garantir o fim das hostilidades, garantir a ajuda humanitária e respeitar o processo de negociações para chegar a uma transição política — disse o secretário, em uma coletiva de imprensa em Paris.
Kerry também revelou que o EI “perdeu 3 mil quilômetros quadrados e 600 combatentes na Síria nas últimas três semanas” e que “a pressão vai se intensificar”.
Ainda assim, Kerry criticou a declaração do ministro das Relações Exteriores da Síria, Wallid Muallen, que rechaçou a possibilidade de que o futuro do presidente Bashar al-Assad seja discutido nas negociações de paz que serão iniciadas esta segunda-feira em Genebra.
— Não negociaremos com ninguém que queira discutir a presidência. Bashar al-Assad é uma linha vermelha — enfatizou o ministro neste sábado. Para ele, a discussão sobre o governante é “responsabilidade exclusiva do povo sírio”.
A declaração mostra que o governo de Damasco “tenta claramente perturbar o processo” de negociações, definiu Kerry este domingo. Já o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Marc Ayrault, disse que a declaração de Muallen é uma “provocação” do governo sírio.
Ayrault, porém, insistiu na continuidade de “negociações de paz” em Genebra, e que o cessar-fogo na Síria “deve ser plenamente respeitado”. Os representantes do governo e da oposição já começam a chegar na cidade.
Esta nova sessão se inicia em um ambiante diferente da anterior, no final de janeiro, quando a ONU nem mesmo conseguir dar início às conversações. Uma trégua patrocinada pelos EUA e a Rússia, e que entrou em vigor no dia 27 de janeiro, está sendo respeitada, apesar de algumas violações. Isso permitiu que a ONU entregasse ajuda humanitária a cerca de 250 mil pessoas bloqueadas em zonas sitiadas.
O ciclo de negoções estará centrado na formação de um governo que inclua todas as tendências, a redação de uma Constituição e a organização de eleições presidenciais e parlamentares.
Segundo o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, o objetivo é organizar essas eleições em 18 meses. No entanto, analistas acham que esta agenda não é realista, pois acreditam que Assad não vá querer deixar o poder, como exige a oposição.
Desde as primeiras negociações, que fracassaram em 2014, o principal obstáculo tem sido o futuro de Assad. O presidente se recusa a deixar o poder, apesar dos cinco anos de guerra, que levaram a 270 mil mortes e milhares de refugiados.
As conversas acontecerão em salas separadas com representantes do governo e da oposição.