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Adolescente enfrenta 6h diárias de viagem para estudar em Acreúna, GO

Adolescente enfrenta 6h diárias de viagem para estudar em Acreúna, GO



Ele mora em fazenda, mas tem aulas na cidade e diz que sonho o impulsiona. Série de reportagem do JA1 mostra dificuldades e problemas na Educação.

Estudantes da rede pública de ensino citam inúmeras dificuldades para manter os estudos, em Goiás. Eles reclamam de falta de merenda, equipamentos sucateados e calor nas salas de aula. Apesar de tudo, o estudante Gustavo Ribeiro, de 15 anos, enfrenta mais de seis horas de viagem diárias, somando ida e volta, para estudar em Acreúna, no sudoeste do estado. “Faço isso por sonho. Quem quer corre atrás”, diz.

O Jornal Anhanguera 1ª edição exibe esta semana uma série de reportagens sobre a educação em Goiás.

O adolescente mora com a família em uma fazenda, localizada a 34 km da escola. Se fosse de carro, ele gastaria meia hora para chegar ao local. No entanto, precisa percorrer um trecho de bicicleta e depois entra em um ônibus escolar, que para em diversas propriedades da região recolhendo alunos.

Por conta de tantas voltas, a viagem leva quase três horas. Quando Gustavo e os colegas chegam até a escola, por volta das 12h30, já vão direto para a sala, sem almoço. O lanche é servido apenas no meio da tarde.

A direção da escola, que tem 742 alunos, não soube informar, ao certo, quantos moram em áreas rurais. No entanto, reconheceu que a longa viagem atrapalha o rendimento dos estudantes.

“O mais perceptível, em alguns casos, é o cansaço. Tanto é que temos uma concessão de não passar atividades para casa para os meninos e meninas da fazenda, justamente por essa dificuldade”, disse a coordenadora Elisângela Rodrigues.

No fim do dia, quando as aulas terminam, Gustavo e os colegas levam mais três horas para chegar em casa. “Já estou cansado, temos que voltar tudo de novo e já vou chegar em casa tarde”, lamentou.

Apesar dos transtornos, a estudante Raíssa Silva, que também pega o mesmo ônibus, diz que busca forças para enfrentar essa maratona diária. “Tenho esperança de ter o que talvez na minha infância foi difícil. E acho que todos os jovens deveriam ter esse sentimento pela escola, pois é difícil, mas vale a pena”, afirmou.

E morar na fazenda e estudar na cidade é uma realidade para 40 mil alunos da rede pública em Goiás, segundo dados da Secretaria de Estado da Educação. Já os estudantes que conseguem atendimento em escolas rurais, mais perto de casa, são 7 mil.

A secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, disse que os estudantes que moram em fazendas estudam na cidade “porque as famílias preferiram assim”. No entanto, uma comissão analisa a possibilidade de implantação da educação no campo e, em breve, o resultado desse estudo será divulgado.

Zona urbana
Os estudantes que moram nas cidades também relatam transtornos. No Colégio Estadual João Barbosa Reis, no Setor Madre Germana I, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, os alunos reclamam da falta de professores e de problemas de estrutura, como cadeiras quebradas, que prejudicam a qualidade do ensino.

“Um dia a professora chegou e reclamou do calor. Aí pediu para a gente abrir as janelas. Todo mundo começou a rir, pois elas não abrem”, contou a estudante Gabrieli Ferreira.

Já a estudante Brenda Ferreira diz que faltam ventiladores nas salas. “A única ventilação que temos é quando os vidros estão quebrados. Em algumas salas até tem ventilador, mas a maioria está com apenas duas hélices e não funcionam”, contou.

Estudantes reclamam de ventiladores quebrados nas salas de aula, em Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Estudantes reclamam de ventiladores quebrados nas salas (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Gabrieli relatou, ainda, que a escola chegou a ficar sem receber verba para a merenda escolar. Com isso, os professores e demais servidores retiram dinheiro do próprio bolso para garantir a alimentação dos estudantes.

A reportagem propôs um desafio para as estudantes e pediu para que elas fizessem uma redação, destacando qual a situação atual da escola e como elas imaginam que ela deveria ser. Depois, a professora Mariana do Carmo leu os materiais e falou sobre os anseios das alunas.

“A gente não percebe problemas de ordem, de não entender o que elas estão querendo falar. Isso é extremamente positivo. Mas a gente até se espanta com o conhecimento que os alunos têm de uma hierarquia, daquilo que, de fato, precisa ser feito, de uma organização, planejamento”, disse a professora.

Para Brenda, se as autoridades não tomarem atitudes, a situação do ensino no país só vai piorar. “Se o Brasil não investe em educação, daqui a um tempo, no futuro, a única coisa que teremos aqui será gente ignorante”, ressaltou.

Respostas
Sobre as reclamações das alunas, a Secretaria de Educação de Aparecida de Goiânia informou que os ventiladores que estavam quebrados foram trocados e os equipamentos funcionam normalmente em todas as salas.

Em relação à denúncia de falta de verba para merenda, a secretaria explicou que suspendeu o fornecimento, em agosto deste ano, porque não foi informada sobre uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas que o fornecimento será normalizado a partir de outubro.

Já sobre a falta de professores, a secretaria argumentou que está remanejando profissionais de outras áreas para a sala de aula, na tentativa de resolver o problema.

Estudantes citam problemas e pedem soluções das autoridades, em Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Estudantes citam problemas e pedem soluções das autoridades (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)