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Cidades arborizadas beneficiam a saúde humana

Cidades arborizadas beneficiam a saúde humana



Autor defende que o caminho entre a natureza e as cidades está intrinsicamente relacionado – e deve ser estimulado

(Texto originalmente publicado no Huffington Post. Tradução livre para o português)

O site da Arbor Day Foundation possui um aplicativo que permite aos visitantes visualizar como uma cidade muda ao receber uma camada de cobertura verde. Usando uma simples ferramenta de slides sobrepostos em uma ilustração, o internauta pode passar gradativamente de umas poucas para muitas árvores. A transformação é notável: todo mundo que conheço diz que preferiria viver na cidade mais arborizada.

Adoro este app, mas confesso que não se trata de um assunto novo para mim. Venho defendendo faz muito tempo que o caminho entre a natureza e as cidades está diretamente relacionado: a natureza precisa das cidades, uma verdade ainda não suficientemente apreciada pela maioria dos defensores ambientais. Isto porque discutir comunidades urbanas compactas reduziria a pressão sobre as mudanças nas paisagens natural e rural. Agora, não podemos manter puras essas paisagens. Mas as cidades precisam da natureza, uma verdade não é suficientemente apreciada no universo urbanista. As cidades precisam tanto da beleza, como do benefício funcional da natureza para reduzir a poluição, restaurar e melhorar os ecossistemas e a saúde humana e, francamente, para tornar a vida urbana mais agradável e bonita, entre outras coisas.

Um das ideias que se expandiu nas últimas décadas é que para se aproximar da natureza era preciso afastar-se das cidades. Há muitos problemas e, às vezes, desilusão em como isto funciona na prática, especialmente porque a urbanização se expande e, no tempo, ganha territórios antes ocupados pela paisagem natural, comendo a própria natureza que uma vez atraíra as pessoas. De fato, permitimos que muitas das nossas cidades eliminassem a natureza dentro de seus limites de concreto.

Por que fizemos assim? Por que não podemos ter os benefícios de bairros tranquilos juntamente com os benefícios da natureza nas cidades?

Sim, podemos. E, sempre que o fazemos, tanto humanos como os ecossistemas saem beneficiados. Há linhas de pesquisa científica que apoiam esses benefício e as quero explorar com alguma profundidade aqui. Serei breve neste artigo, e abordarei os benefícios da redução da poluição em primeiro lugar, uma vez que é o que a Arbor Day Foundation enfatiza em conjunto com suas ilustrações.

Em particular, eu gosto do jeito que a Arbor Day Foundation resume (e simplifica) a ciência por vezes complicada de escoamento de águas pluviais poluídas, na ausência de vegetação natural:

“A chuva refresca a terra e alimenta a paisagem verde. Mas, como casas, lojas, escolas, estradas e estacionamentos se propagam e a cobertura arbórea natural se perde, também desaparece o efeito de absorção da vegetação e do solo. Acaba que a chuva, sempre bem-vinda, vira um problema caro de escoamento de água pluvial. Sem o benefício de árvores e de infraestrutura vegetal, cursos d’água terminam poluídos com óleos, partículas de metais pesados e outras substâncias nocivas que chegam carregados pelas águas. Peixes e a vida natural sofrem, beber água potável se torna caro ou impossível, os valores de propriedade são reduzidos e nosso meio ambiente é degradado.”

Há um paradoxo aqui entre cidade e poluição, já que zonas urbanas densas e compactas podem ajudar a manter o bom funcionamento das bacias hidrográficas em suas zonas rurais. Isto porque a densidade urbana pode reduzir o escoamento para essas bacias o que não acontece quando há expansão urbana de estradas e estacionamentos para os subúrbios por exemplo.

Uma boa densidade urbana pode ser medida analisando o volume total de escoamento de água para as bacias, mas somente se as cidades integrarem vegetação absorvente e infraestrutura verde no tecido urbano. De outra forma, pavimentos impermeáveis e telhados associados a cidades densas podem contaminar poluir o escoamento gravemente. O US Environmental Protection Agency (EPA) estima que mais de 10 trilhões de litros de escoamento de águas pluviais urbanas sem tratamento misturam-se às águas superficiais nos EUA todos os anos, degradando o ambiente, destruindo o habitat de peixes e alterando o fluxo ecológico e hidrológico. No caso de cidades mais antigas, cujos sistemas de esgoto recolhem tanto as águas pluviais, como esgoto doméstico e industrial pelos mesmos tubos, o resultado durante as temporadas de chuva pesada pode ser esgotos transbordantes, o que não agrada ninguém.

Como a Arbor Day Foundation aponta corretamente, as árvores são parte da solução. E também são os parques, os jardins comunitários, os jardins de chuva, os telhados verdes e as plantações de beira de estrada, a pavimentação permeável, aproveitamento das águas pluviais e outros tipos de infraestruturas verdes. Além do benefício de águas pluviais, estas medidas reduzem o calor do verão e a consequente demanda de energia. Elas também absorvem o dióxido de carbono.

Tudo isto é bom para nós seres humanos. Simplificando, nós relaxamos na natureza urbana. Nossa pressão arterial cai e nossa acuidade mental sobe. Parques e outros espaços verdes também oferecem oportunidades para recreação e aumentam a aptidão física. Eles elevam os valores das propriedades privadas. Sabemos que disto de forma intuitiva, e a ciência reforça esta noção.


Não vou repetir o que já escrevi sobre a eficácia da natureza urbana, mas esta semana tomei conhecimento de outro estudo. No caso, da Medical School da Universidade de Exeter, no Reino Unido. Baseado em dados de mais de mil participantes, a equipe de investigadores focou dois grupos de pessoas: os que se mudaram para áreas urbanas mais verdes, e os que se mudaram para áreas urbanas menos verdes.

Em trabalho divulgado no ano passado, os pesquisadores descobriram que, em média, aqueles que foram para áreas mais verdes experimentaram uma melhora imediata de saúde mental, e que se manteve por pelo menos três anos após a mudança. O estudo também mostrou que as pessoas que se deslocaram para uma área menos verde sofreram uma queda piora na saúde mental, ainda que nesses casos a queda não permaneceu no tempo.

Os autores ajustaram as análises para isolar os efeitos de outros fatores que poderiam afetar a saúde mental das pessoas no tempo – como renda, emprego e educação -, bem como fatores relacionados à personalidade. O pesquisador-chefe Ian Alcock acredita que os resultados do estudo possam ter implicações importantes:

“Nós mostramos que as pessoas que se deslocam para áreas mais verdes têm melhorias significativas e duradouras em saúde mental. Os resultados são importantes para quem faz o planejamento urbano, que deveriam pensar sobre como introduzir novos espaços verdes nas cidades e em como esses espaços poderiam oferecer benefícios para as comunidades locais no longo prazo”, diz.

Os dados do estudo vêm do British Household Panel Survey, um banco de dados com informações recolhidas de questionários respondidos pelas famílias em toda a Grã-Bretanha.

F. Kaid Benfield é consultor sênior para Estratégias Ambientais, no PlaceMakers, e escreve sobre comunidade, desenvolvimento e meio ambiente no Huffington Post e para outros veículos de imprensa norte-americanos. Seu último livro é People Habitat: 25 Ways to Think About Greener, Healthier Cities, ainda sem tradução para o português.