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Conheça o segredo da escola pública do Rio que formou seleção de alunos de ouro

Conheça o segredo da escola pública do Rio que formou seleção de alunos de ouro



A diretora da Escola Municipal Ary Barroso, em Cordovil, Rosângela Ferreira Muniz da Silva Foto: Márcio Alves / Extra

Por trás da seleção de craques da rede municipal de ensino, está um time de professores de primeira divisão. Não foi por acaso que a Escola Municipal Ary Barroso emplacou 11 alunos — os únicos de 42.620 que cursaram o 9º ano na cidade do Rio em 2014 — no prêmio Mérito Escolar, concedido a quem só tirou notas de 9 a 10 em todas as disciplinas, o ano todo. O segredo da unidade, uma entre as 1.456 unidades do município, está no “esquema tático” dos mestres.

— A gente procura ter sensibilidade para perceber as potencialidades de cada aluno — resume a diretora Rosângela Ferreira Muniz da Silva, de 55 anos, mas acrescenta que a fórmula do sucesso não surgiu do dia para a noite. — Quando cheguei aqui, em 1991, já se falava em projeto político pedagógico. Enquanto nas outras escolas os professores se reuniam para fazer prova, aqui reuniam-se para discutir educação.

Escola Ary Barroso, em Cordovil: ar-condicionado em todas as salas e cuidado o ano inteiro Foto: Márcio Alves / Extra

O ponto de partida é o respeito à diversidade na sala de aula. Na prática, são pequenas ações que fazem a diferença, numa escola que recebe alunos de bairros de classe média como Vila da Penha, e de comunidades como Parada de Lucas. Estudantes com mais dificuldade recebem atenção especial e, se preciso, os professores ficam depois da saída para dar reforço. Se algum demonstrar descompromisso, como chegar atrasado ou faltar, a família é contactada.

— Alguns alunos não querem nem vir para cá, porque já sabem que é um quartel — brinca Carlos José, de 58 anos, mais conhecido como professor Carlão, de Matemática: — A vida é um campeonato, e a gente tenta mostrar aos alunos que é um prazer buscar o sucesso.
 

Professor Carlão, de Matemática Foto: Márcio Alves / Extra

Desde que as crianças chegam à escola, no 6º ano, são incentivadas a se dedicar para conseguir fazer o ensino médio numa escola de ponta.

— A gente mostra o valor do estudo e os incentiva a prestar concurso para as federais que ofereçam um bom ensino médio. Muitos vêm de realidades menos favorecidas. A gente mostra que o caminho é estudar — diz Rosângela.

Para incentivar o desempenho dos 392 alunos, divididos em dez turmas, a direção também investe numa infraestrutura que não deixa a desejar para a rede particular. A Ary Barroso tem ar-condicionado em todos os ambientes, quadra poliesportiva, refeitório colorido, e até os banheiros são decorados.
 

Refeitório da Escola Municipal Ary Barroso, em Cordovil Foto: Márcio Alves / Extra

— O aluno vê tudo arrumadinho e se sente valorizado. O ambiente é fundamental — diz a diretora, que não recebe ajuda financeira, além do orçamento do município, para a manutenção do ambiente — Tudo é gestão e planejamento.
 

Quadra poliesportiva da Escola Municipal Ary Barroso, em Cordovil Foto: Márcio Alves / Extra

O tratamento diferenciado e os bons resultados renderam à escola uma parceria com o Ismart, ONG que pinça jovens talentos de baixa renda e os leva para escolas particulares de ponta.
 

A escola por dentro: manutenção com planejamento Foto: Márcio Alves / Extra

Há 30 anos na rede municipal, o professor Carlão conciliou trabalhos em escolas públicas e particulares durante muitos anos: deu aulas nos cursos Miguel Couto, Bahiense e GPI, e chegou a ser coordenador do Colégio Impacto. Hoje, dedica-se exclusivamente à Escola Ary Barroso, onde leciona Matemática.

— Trabalhar aqui é um prazer, principalmente porque a equipe funciona como um time. Todo mundo joga para o mesmo lado — diz ele, que se orgulha de ensinar há 18 anos na Ary Barroso. — Posso falar, por experiência própria, que os alunos do 9º ano são os que dão menos trabalho, pois já foram cobrados e acompanhados desde o 6º.

A confiança dos professores na escola é tanta que a maioria fez questão que os filhos estudassem na unidade.

— Quer uma demonstração maior de confiança e compromisso do que isso? — pergunta a diretora adjunta Rosane Ferreira da Silva.
 

Diretora adjunta, Rosane Ferreira da Silva, com os 11 alunos que levaram o prêmio Mérito Escolar Foto: Márcio Alves / Extra

O histórico do colégio — desde a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2006, a escola sempre ficou entre as dez primeiras do município — acabou atraindo a atenção não só dos alunos, mas também de professores em potencial.

— A cultura que se formou atrai bons profissionais. Quando surge uma vaga, as pessoas querem vir para cá. Mas só vem quem está a fim de trabalhar — diz a diretora Rosângela.