Escolha da Profissão
Influência de família e professores e conhecimento da área escolhida são essenciais
Importante decisão
Que imagem temos de nosso futuro? Jovens que prestam vestibular enfrentam cada vez mais cedo essa questão ao ter que fazer a escolha por um curso superior. Essa decisão pode estar relacionada a diversos fatores, como família, professores e empregabilidade.
A escolha da profissão compõe um projeto de vida e profissional, segundo a psicóloga Denise Combinato, coordenadora do serviço de orientação profissional do Centro de Psicologia Aplicada (CPA), ligado à Faculdade de Ciências (FC), câmpus de Bauru. “Um projeto profissional começa na escolha de uma profissão, e o pessoal, no cidadão que queremos ser”, diz.
Todo ofício desempenha um papel social, e a escolha de um pode ser determinada pelo papel que esse jovem quer ter na sociedade. “Não é só buscar uma realização financeira, uma satisfação material. É pensar também qual o meu compromisso com o outro e qual a função da minha atividade na comunidade”, complementa.
Em um projeto, de acordo com Denise, devemos estabelecer um objetivo a ser atingido. Depois, é importante que se tenha a consciência da sequência de ações necessárias para atingi-lo. Por sua vez, a cada ação devem ser estabelecidas metas. Como exemplo, imaginamos que nosso objetivo é passar no processo seletivo de uma Universidade para o curso de uma determinada área. Nas ações, o empenho nos estudos e sanar as principais dificuldades nas disciplinas do ensino médio parecem ser fundamentais. Para medir o sucesso da empreitada, entre as metas, podem estar as boas notas nas provas do último ano do ensino médio.
Ao projetar seu futuro, o pré-vestibulando deve vislumbrar o cenário desse futuro e, assim, encontrar oportunidades para seu desenvolvimento e também da comunidade. Essa é a visão de Emerson Moraes Vieira, gerente de Educação do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas – São Paulo). “Para enxergar novas possibilidades, é preciso buscar informações e não pautar as decisões apenas no momento presente”, reflete.
Contudo, a elaboração de projetos é a última etapa de um processo de auto-conhecimento e de obter informações sobre os cursos e profissões, concordam Vieira e Denise. “Nesse processo, o jovem toma consciência das influências que afetam suas decisões e da permanente construção do indivíduo. É importante saber que não existe uma única possibilidade de escolha ou uma certa, mas a melhor naquele momento e condições”, explica a psicóloga.
Ser ou não ser
Quem ou quais são os afetos que me afetam? Sonho? Se sonho, quais são meus sonhos? Quais são os medos que me fazem perder o sono? Refletir sobre essas e outras questões pode trazer algumas pistas para o autoconhecimento, peça fundamental para a melhor escolha. Para a psicopedagoga Maria Beatriz de Oliveira, coordenadora do serviço de orientação vocacional do Centro de Pesquisas sobre a Infância e a Adolescência (Cenpe), da Faculdade de Ciências e Letras, câmpus de Araraquara, enquanto os jovens não conseguem expressar sua própria identidade – que é um processo também de autoconhecimento –, eles podem se achar perdidos. “Enquanto eles não se veem, também não enxergam o caminho a seguir”, conclui.
Nesse processo, ver-se anos à frente no curso e profissão escolhidos pode ajudar, segundo Idamar Carpinelli, orientadora vocacional do Ciee – SP (Centro de Integração Empresa-Escola – São Paulo). “Os jovens, cada vez mais prematuramente, são obrigados a escolher a profissão. Contudo, sofrem influências dos pais, professores, amigos e da mídia. Por isso, é importante que eles tentem se imaginar daqui a 10 ou 15 anos naquela profissão”, diz.
Porém, é preciso tomar cuidado quanto à imagem feita das profissões, alertam as duas orientadoras. Por construções sociais, algumas áreas são mais bem-vistas pelos pais. Por exemplo, ter um filho advogado ou médico ronda os sonhos ou o inconsciente de alguns deles.
Idealizações perdidas
Esses estereótipos profissionais encontram-se ligados, muitas vezes, a altos retornos financeiros e bens materiais, como também ao valor simbólico – ou status – que certas profissões acarretam. E a mídia, ao valorizar algumas carreiras, reforça esses estereótipos, acredita Paulo Motta, coordenador da orientação vocacional do Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada (CPPA), da Faculdade de Ciências e Letras, câmpus de Assis. “A exposição contínua faz com que haja a idealização. É o caso do Jornalismo. Muitos querem se formar no curso para serem âncoras de telejornais”, ressalta.
Um problema muito comum de acontecer, na visão de Denise, do CPA, é que os alunos acabam relacionando diretamente as disciplinas do ensino médio com o curso e a profissão. “Um estudante gosta de Biologia e acaba escolhendo um curso de graduação ligado à área de Biológicas, mas nem conhece a profissão”, exemplifica.
Para especialistas como Denise, Maria Beatriz e Motta, a falta de informação sobre as profissões é o principal problema dos pré-vestibulandos. Eles acreditam que a melhor forma de desconstruir tais idealizações é informar-se por meio de guias, participar dos projetos de recepção dos pré-vestibulandos feitos pela maioria das universidades, entrevistar e conviver com diferentes profissionais, professores e alunos universitários, além de participar de projetos de orientação profissional.