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Diretor financeiro fala sobre o cristão e o trabalho

Diretor financeiro fala sobre o cristão e o trabalho



Como diriam muitos anciãos na fé, antes o cristão era reconhecido pelas boas ações, bastava uma palavra e já era suficiente para validar a promessa feita.

Como diriam muitos anciãos na fé, antes o cristão era reconhecido pelas boas ações, bastava uma palavra e já era suficiente para validar a promessa feita. Mas essa verdade permanece nos dias atuais? Os cristãos têm dado bons exemplos nas empresas? Para responder essas e outras perguntas convidamos o diretor financeiro, Sergio Camargos, para falar sobre o trabalho e o cristão.
 
Formado em administração de empresas, pós-graduado em finanças internacionais pela FGV – financeiro de indústria no Brasil, distribuidora nos EUA e indústria na Itália, Sergio é um dos responsáveis pela Reunião dos Empresários realizada na Igreja Batista da Lagoinha. Além do vasto currículo profissional, Sergio também é pastor, consagrado desde setembro de 2009.
 
Lagoinha.com: É verdade que há muitos empresários que não gostam de contratar cristãos? 
Sergio Camargos: Não é que eles não gostem de contratar cristãos, mas na verdade, muitos empresários têm problemas com eles. Então, aquilo que deveria ser um ponto positivo no currículo, tem se tornado algo negativo por causa da conduta que as pessoas têm tido. Há uma expectativa alta sobre aqueles que são cristãos, mas muitos acabam decepcionando. Infelizmente, os piores funcionários que tenho são evangélicos.
 
Lagoinha.com: Como tem sido a conduta dos cristãos que não são bons funcionários?
Sergio: Eles têm sido relapsos; não se preocupam com horário, tem cumprido com suas funções de forma relaxada, não são diligentes… Infelizmente, muitos estão praticando exatamente o que os chefes das empresas esperam que não façam. Deixaram de ser um referencial. Claro que existem aqueles funcionários cristãos que são ótimos no que fazem, são muito acima da média, mas a grande maioria muitas vezes usa até mesmo o fato do patrão ser crente, do empresário ser crente para poder se beneficiar de alguma forma e agir de uma maneira negativa no trabalho.
 
Lagoinha.com: Você falou de dois perfis de trabalhadores cristãos. Qual é a diferença entre aquele que é “acima da média” e aquele que não tem boa conduta no trabalho?
Sergio: Na verdade, percebo que aqueles que têm boa conduta têm relacionamento com Deus e foram transformados pela Palavra. Enquanto os que apresentam comportamento ruim são apenas crentes nominais; não foram transformados. Além disso, aproveitam do fato de serem “pseudocrentes” para tirar proveito da situação. Então, a grande diferença é a transformação e de fato agir como o Senhor espera que façamos.
 
Lagoinha.com: Um grupo de pessoas começa a falar mal do chefe na sala em que o cristão está. Qual deve ser a atitude dele diante disso?
Sergio: O contexto dirá o que deverá fazer. Não existe regra para essa situação. “Levantar a bandeira” para defender o seu patrão não quer dizer nada. Ficar calado também não. Então depende do contexto, do nível de intimidade que você tem com as pessoas, porque a última coisa que devemos fazer em um ambiente de trabalho, mesmo que seja por isso, é fazer inimigos.
O maior mandamento de todos é amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como você ama a você mesmo. Se você não tiver sabedoria para agir em uma situação dessa, poderá perder a pessoa para sempre. Às vezes é até mesmo a oportunidade que ela está esperando para brigar com você. Então eu, particularmente, ficaria calado e esperaria o momento certo para falar. Se aquele for o momento, dependendo do calor da conversa, falaria.
 
Lagoinha.com: Suponhamos que uma pessoa trabalha em uma empresa que não lhe paga as horas extras que faz. Ela não denuncia a empresa e continua trabalhando durante um bom tempo. Um dia esta pessoa resolve se demitir e processa a empresa. Isto é correto?
Sergio: Não acho correto. Existem empresas que contratam com salário fora da carteira, às vezes nem assinam a carteira e a pessoa se dispõe a trabalhar ali pensando que depois de algum tempo vai se beneficiar indo na justiça. Se a pessoa não concorda com uma prática dentro da empresa em que trabalha, deve falar com as pessoas que a contrataram que não concorda com aquela prática ou então sair da empresa. Ela não deve deixar a situação acontecer como se estivesse fazendo uma poupança para ir à justiça e falar que está lutando pelos seus direitos. Muitos contam até mesmo um monte de mentiras ao ir a juízo. Isto não é correto. A empresa não está sendo honesta, mas a pessoa também não está.
 
Lagoinha.com: Então, em que circunstâncias seria justificável ao cristão processar uma empresa?
Sergio: Biblicamente falando, devo tentar fazer um acordo antes de ir à justiça. Na Palavra diz: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão” (Mateus 5.23-25).
É lógico que hoje não seremos presos por uma questão trabalhista, pelo menos não o empregado. Mas o bom entendimento é que a pessoa deve buscar um acordo antes. Então, se existe uma questão na empresa que está me incomodando, eu vou falar com o chefe e tentar acertar esta situação. Se isso não resolver o problema, saio da empresa.
Só é justificável ao cristão processar uma empresa se ele foi injustiçado.  Então você pode dizer que aquele que não recebeu o pagamento pela hora extra também foi injustiçado. Na verdade, isto se aplica no caso de algo não premeditado, uma situação em que a pessoa não foi conivente como uma pessoa que aceita trabalhar sem a carteira assinada foi.
 
Lagoinha.com: Como podemos evangelizar no ambiente de trabalho?
Sergio: Creio que não precisamos dizer que somos cristãos. Eu, pelo menos, não falo que sou evangélico, mas todas as minhas atitudes têm que refletir isso. Meu relacionamento com as pessoas, o respeito que tenho por elas, a forma como converso, principalmente o que não sai da minha boca e o que não sai dela; como lido com as regras do trabalho, se cumpro os horários, se falo a verdade em todos os aspectos, não aceitar a mentira de forma nenhuma. E às vezes não aceitar a mentira não é daquela maneira, mas é quando alguém lhe pede para fazer algo errado e você diz: “Olha, eu infelizmente não vou fazer isso. Eu não concordo com essa prática”. Devemos fazer isso até de maneira amorosa. Então, essa conduta é muito importante. É o que você é, na verdade, não o que você fala. Vemos as pessoas dizer muito do que elas não estão vivendo. É como diz a palavra no livro de Tiago, tenho que ser mais praticante do que ouvinte da Palavra.
“Pregue o evangelho. Se necessário use palavras” dizia Francisco de Assis. Então nada impede, à medida que você cria intimidade com as pessoas, que fale abertamente sobre Jesus. Os e-mails que eu envio aos meus comandados hoje, assino com “Jesus lhe abençoe”. Não tenho o menor problema em expressar abertamente sobre Cristo, mas se não fizermos isso com sabedoria, podemos afastar as pessoas. Quando falamos sobre Jesus alguns se sentem incomodados, mas aos poucos ganhamos liberdade e nos tornamos referência no ambiente de trabalho. As pessoas vêm se aconselhar com você, pedir opiniões sobre as mais diversas coisas.
 
Lagoinha.com: Como deve ser a postura do cristão em um ambiente em que muitos não acreditam em Deus?
Sergio: Lembro de quando achava que tinha um relacionamento com Deus por simplesmente ir a apenas uma reunião por semana, e achava que Ele tinha que fazer o resto de tudo por mim porque tinha feito isso. Em alguns momentos também cheguei a dizer que não cria em Deus. Então, sempre me coloco no lugar dessas pessoas e busco lidar com ela com amor.
Tenho buscado do Senhor sabedoria para não afrontar as pessoas com a minha fé e procuro ser prático. Não cobro das pessoas aquilo que não faço. Gosto de ensinar dando exemplo e assim como na igreja, também faço no trabalho. Procuro não tratar de maneira diferente o cristão e o não cristão. Quero tratá-los igualmente porque aqueles que não estão em Cristo também são alvo do amor de Deus. A Palavra diz que a vontade do Senhor é que todos sejam salvos, e se eu não for esse instrumento na mão de Deus, muitas pessoas se perderão.
Porém, se você me perguntar se eu vou para um “happy hour” com essas pessoas, a resposta será não. “Você tem os mesmos bate-papos que elas?”, não. “Você participa das mesmas rodas?”, eu não participo. De vez em quando até participo de alguma festa que a empresa promove, mas dependendo das coisas que acontecem nelas, eu não vou. É preciso ter sabedoria. Às vezes somos antipatizados por causa disso, mas tenho que escolher. É preferível agradar a Deus do que aos homens. Os princípios são inegociáveis.
 
Lagoinha.com: Qual é o segredo para ser um ótimo profissional cristão?
Sergio: O principio de todas as coisas é ter um relacionamento com o Senhor, e a maneira mais simples de fazer isso é lendo a Palavra de Deus. Hoje a gente padece na igreja porque os cristãos não lêem a Bíblia. As pessoas querem ter relacionamento com o Senhor, mas por meio das experiências que os outros têm, do que elas assistem, do que ouvem nos cultos, mas não pagam o preço por esse relacionamento.
Então, creio que todo cristão precisa, tendo cargo na igreja ou não, ler a Bíblia. Se ele fizer isso, todas as áreas da vida dele serão impactadas; a vida profissional, a vida pessoal, a vida familiar. Creio que a leitura constante, de Gênesis a Apocalipse, transforma a vida das pessoas, porque tenho experimentado isso na minha vida. Vejo minha esposa e as minhas filhas vivendo essa mesma verdade.
Além disso, a Palavra tem a resposta para todas as coisas. Lá tem o exemplo de ótimos profissionais, como Neemias. Ele foi um homem que tinha um propósito, e por isso ele começou a enfrentar um monte de situações, os inimigos se levantaram, mas ele não desistiu porque a oposição era muito grande. A Bíblia diz que ele e os que estavam com ele com uma mão trabalhavam e com a outra estavam preparados para a guerra.
O profissional cristão deve ser muito focado no que faz e procurar trabalhar no padrão que o Senhor estabeleceu para ele. Ele não aceita nada menos que esse padrão. Ele quer ser o melhor, mas não para aparecer, mas para glorificar ao Senhor. “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis” (Colossenses 3:23-24). Esse versículo tem norteado a minha vida.