Com a ajuda de drone, arqueólogos acham vila de mil anos nos EUA
Câmera com sensor de calor acoplada no equipamento pode representar uma nova etapa do estudo de antigas civilizações
Área foi encontrada no Estado do Novo México, EUA Katie Simon/Live Science
ALBUQUERQUE, NOVO MÉXICO (EUA) – Um novo estudo divulgado no início deste mês na publicação científica “Journal of Archaeological Science” descreve como arqueólogos que usaram um drone dotado de câmera com sensor de calor descobriram o que eles acreditam se tratar de uma antiga vila de mil anos, no Estado do Novo México, EUA.
A descoberta de estruturas circulares semelhantes a espaços para cerimônias – escondidas sob camadas de sedimentos e artemísia – está sendo saudada como um passo importante que pode ajudar a lançar luz sobre mistérios muito bem enterrados, que compõem paisagens desérticas do Sudoeste americano ao Oriente Médio.
Desde a década de 70, arqueólogos têm conhecimento de que imagens aéreas feitas com ondas infravermelhas térmicas de luz podem ser uma poderosa ferramenta para detectar restos culturais no solo. No entanto, poucos tiveram acesso à satélites que apresentam essa tecnologia. Além disso, em helicópteros e aviões, esses equipamentos apresentam grandes limitações.
Com os drones, os cientistas podem obter imagens de qualidade a partir de altitudes e ângulos muito específicos, a qualquer hora do dia e em variados espaços de tempo, usando drones baratos e câmeras disponíveis no mercado.
O arqueólogo da Universidade de Arkansas, nos EUA, Jesse Casana uniu-se com o professor da Universidade de North Florida John Kantner no verão passado para testar os drones em uma área remota do Noroeste do Novo México, ao Sul do Parque Nacional Histórico da Cultura Chaco. O espaço é o centro cultural e religioso da antiga sociedade Puebloan.
Kantner vem estudando uma aldeia na área conhecida como Blue J. Ele encontrou duas famílias à beira da aldeia através de escavações teste, mas muito dos segredos da região permanecem enterrado sob o arenito erodido.
Blue J foi uma área ativa há cerca de mil anos, no mesmo período auge da região do Chaco. Assim, encontrar estruturas como “kivas” e “grandes casas” no local ajudaria a solidificar a teoria de que a influência dessa cultura se espalhou pela região.
As “kivas” eram estruturas circulares, com pontos de encontro subterrâneos, associadas à realização de grandes cerimônias. Já as “grandes casas” se configuravam em enormes construções de pedra de vários andares, muitas vezes voltadas para direções solares e lunares, que também ofereciam linhas de visão entre os edifícios para permitir a comunicação.
O drone usado pelos arqueólogos flagrou grandes formas circulares, não naturais, que podem ser “kivas”. A equipa agora planeja uma escavação no local para procurar os restos arqueológicos.
– Dentro de algumas horas fomos capazes de examinar esta área. Trata-se de uma grande novidade. De forma rápida e barata, somos capazes de encontrar novas estruturas – avaliou o pesquisador Kantner.
O uso de drones
Hoje já se fala sobre o uso de drones em outros ambientes secos, como Arábia Saudita e Chipre, onde a diferença entre as temperaturas diurnas e noturnas seriam grandes o suficiente para permitir que estruturas de pedra enterradas sejam encontradas e registradas por “imagens térmicas”.
Sarah Parcak, arqueólogo da Universidade de Alabama, em Birmingham – que não está envolvida na pesquisa do Novo México – disse que se animou com o potencial uso da tecnologia em um novo trabalho no Egito. Segundo a pesquisadora, drones dotados de sensores podem aprimorar a arqueologia, melhorando a forma como se estuda paisagens e recursos que são enterrados sob o solo.
Entretanto, os equipamentos têm seus limites. Os voos, por exemplo, duram menos de 15 minutos, dependendo da carga da bateria e do peso da câmera. Há também questões sobre regras federais que regem a utilização das máquinas.