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No Sudão do Sul, 50 mil crianças podem morrer de fome até o fim deste ano

No Sudão do Sul, 50 mil crianças podem morrer de fome até o fim deste ano



De acordo com o Unicef, 740 mil menores de 5 anos estão em ‘alto risco de insegurança alimentar’
Preocupam ainda problemas como falta de acesso à água potável e de saneamento básico

Civis fogem de ataques em Bentiu, no Sudão do Sul STRINGER / REUTERS

JUBA — Além de serem recrutadas e treinadas para lutar no conflito, pelo menos 50 mil crianças com menos de 5 anos podem morrer de fome até o fim deste ano no Sudão do Sul. Atualmente, 740 mil delas estão em “alto risco de insegurança alimentar”, de acordo o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Christophe Boulierac. Destas, 50 mil poderão morrer se não forem alimentadas imediatamente.

Em entrevista, Boulierac disse que, além da falta de alimentos, preocupam especialmente o acesso à água potável e a falta de saneamento, principais causadores de doenças contagiosas. Ele falou ainda sobre o recrutamento de crianças pelas duas partes do conflito.

— Acreditamos que ambos usam crianças. Temos relatos não confirmados de que os grupos armados da oposição recrutam crianças, mas não podemos falar de números. Sobre o Exército regular, temos confirmação de que têm pelo menos 149 menores recrutados.

Sem fundos para alimentar crianças

O total de crianças desnutridas faz parte de um grupo de 250 mil que, de acordo com o Unicef, sofrerão de má nutrição aguda e severa nos próximos meses. Por enquanto, o objetivo é conseguir alimentar 150 mil, mas a organização não tem fundos necessários: o Unicef pediu US$ 38 milhões para a campanha no país, mas até hoje só conseguiu US$ 4,6 milhões. O valor é capaz de alimentar 600 mil sul-sudaneses, mas calcula-se que pelo menos 3,7 milhões deles sofram atualmente de fome.

— Infelizmente, o pior ainda está por vir. Se o conflito continuar, e os agricultores perderem a temporada de plantio, veremos a desnutrição infantil em uma escala nunca antes experimentada aqui — disse na semana passada Jonathan Veitch, representante do Unicef no país.

O conflito no Sudão do Sul — que já deixou milhares de mortos e obrigou mais de um milhão de pessoas a abandonar suas casas — começou em dezembro, quando o presidente Salva Kir acusou o ex-vice-presidente Riak Mashar de promover um golpe de Estado. Mashar pegou em armas, o Exército dividiu-se em dois e o conflito ganhou contornos étnicos, já que os dois líderes pertencem a tribos distintas.

O último massacre aconteceu na semana passada, quando pelo menos 200 civis de uma etnia foram mortos na cidade petroleira de Bentiu, em ataques a uma igreja, a edifícios da Nações Unidas e a um hospital. O grupo de Mashar feriu ainda quase 400 pessoas em uma mesquita, segundo a Missão da ONU no Sudão do Sul (Unmiss), durante a tomada da cidade, capital do estado petroleiro de Unité, antes nas mãos do presidente sul-sudanês, Salva Kiir.